domingo, 14 de março de 2010

O FMI TENTA CONTINUAR O MESMO

Leon Bevilaqua




Nas décadas de 80 e 90 do século passado, o FMI – Fundo monetário internacional – revelou-se plenamente como instrumento de opressão das nações mais pobres, dependentes do capitalismo central. Mais que isso, foi um instrumento de imposição e ampliação do neoliberalismo, que na época era dominante e quase unanimidade.
Os representantes do FMI eram recebidos, nas capitais e cidades principais dos países pretendentes de empréstimos, como personalidades cujas biografias e entrevistas eram merecedoras de publicação nos principais jornais desses países. No Brasil, os jornais Folha de São Paulo e Estadão, além das principais revistas, desempenharam esse papel.
Banqueiros privados, em entrevistas à grande imprensa, diziam que era absurdo ainda existirem bancos estatais como o BNDES, Banco do Brasil e Caixa econômica federal. Arrogantemente, afirmavam que estas entidades deveriam ser imediatamente privatizadas. O senador direitista Roberto Campos, já falecido, por muitos chamado de Bob Fields, referia-se em seus discursos no senado e entrevistas na imprensa à Petrossauro, a Petrobrás – como uma empresa que deveria também ser privatizada o quanto antes, para o bem e maior eficiência da nação.
Existem países que embarcaram completamente nas barcas da privatização, hoje estando bastante lesados e arrependidos. O México é um deles, tendo amargurado em 2009 diminuição do PNB de 5,8% .Nestas décadas citadas, não só o México como o Brasil e a Argentina sofreram horrores. Felizmente o Brasil e países asiáticos não obedeceram tanto à corrente que se seguia. Souberam manter seus principais bancos e estatais. Hoje os bancos estatais e a Petrobrás estão evitando muitos sofrimentos ao nosso povo.
Nossa queda de PNB em 2009 foi de apenas 0,2%, o que indica estagnação, mas foi resultado razoável para a época adversa atravessada.
Lógico que alguns dos políticos desses tempos difíceis tiveram o grande mérito de, com sacrifícios difíceis de imaginar, impedir muitas das privatizações que o FMI e outras entidades queriam a todo custo nos impor. Mesmo assim, por ocasião do festival de privataria que assolou nosso país no fim da década de 90 e começo desse século, protagonizado por FHC e seu fiel escudeiro José Serra, foram a nós impostas privatizações inconstitucionais e absurdas. A mais importante delas, a mais escandalosa, foi a da Companhia Vale do Rio Doce.
Com a crise econômica internacional que eclodiu em 2008 e ressaltou os riscos de um projeto neoliberal duro e puro, tendo reiterado a necessidade de regulação dos mercados e atuação anticíclica por parte do Estado, era de se esperar menos imposições neoliberais do FMI aos estados necessitados de empréstimos; principalmente levando em conta que os brics – Brasil, Rússia, Índia e China- agora são credores daquela entidade.
Em março de 2010, o governo Turco rompeu negociações de dois anos com o FMI porque esta entidade, para conceder empréstimo inferior ao pretendido, exigiu privatização de parcela substancial dos bens públicos daquela nação. Esta pretensão causou temores não só na população turca, como em seus políticos. O primeiro ministro turco – Recep Tayyip Eslodegan não hesitou em desqualificar em público a entidade, o que causou mal estar. Já não existem países dependentes como antigamente! Já não são estendidos tapetes vermelhos para representantes do FMI, embora eles tentem ser os mesmos de antes. Não é à toa que o G 20 tende a absorver muitas das funções do FMI.

-Nota 1-
O FMI consumiu sua credibilidade junto aos países asiáticos em 1997, quando se aproveitou das dificuldades dos países da região que sofreram ataques especulativos para impor, de forma evidente, os interesses financeiros e econômico dos EUA e a ideologia neoliberal em voga. Com objetivo de não mais dependerem daquela entidade subordinada a Washington, os países da região passaram a acumular reservas de forma obssessiva. A França e a Alemanha falam em criar um fundo europeu e, os países asiáticos, cogitam situações semelhantes.