segunda-feira, 12 de julho de 2010

Crise econômica atual

*Leon Bevilaqua


É preciso que fique claro, evidente para todas as pessoas: A grande crise econômica, que vem se acentuando desde 2008, é decorrência da hegemonia, nos últimos trinta anos, do neoliberalismo - uma ideologia de direita que desregulamentou os mercados financeiros.
Sabemos que a falta de regulamentação ( medidas de precaução) destes mercados não é causa única da situação que vivenciamos, mas foi das mais evidentes. Assim sendo, cabe aos estadistas impedir que banqueiros produzam novos sofrimentos, disciplinando tais mercados e tomando outras medidas que se encaminhem no mesmo sentido.
Uma outra causa da crise, bastante ponderável, é a ainda existente dominância do dólar como moeda que não mais se justifica. Depois da segunda guerra mundial, quando ela começou a se intensificar, o PNB americano era da ordem de 50% do PNB mundial, hoje é da ordem de 20%.
Os norte-americanos são, há significativo período de tempo, grandes consumidores que produzem menos do que consomem, situação está que se mantém através do endividamento. Isto não deve permanecer por tempo indefinido, mesmo com os privilégios da emissão de moeda obrigatoriamente aceita por todos. Fazem-se necessárias reformas que retirem do dólar tal primazia de forma a assegurar mais justiça nas transações financeiras internacionais.
Países como o Brasil, Argentina, Índia e outros já estão contornando alguns problemas cambiais causados pelo dólar, fazendo acordos bilaterais nos quais fica estabelecido o pagamento dos saldos em moedas nacionais.
O FMI, o Banco Mundial e outras entidades financeiras terão que ser reformadas dando mais espaço à atuação dos BRICs. Na prática, o G20 já está operando algumas das funções do FMI .
O mundo está diferente, a monopolaridade está em franco retrocesso, a multipolaridade já se estabeleceu e tem se fortificado apesar das forças retrógradas tentarem retroceder o processo. As nações já começam a não aceitar subordinações humilhantes.
É tempo de mudanças e novas regulamentações de mercado. Mesmo economistas conservadores já têm um consenso mínimo: Para evitar novas catástrofes, é preciso criar mecanismos que solucionem problemas isolados e sistêmicos, além de impedir que o stress se alastre pelas fronteiras nacionais.
Como se sabe, o neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deve ser entregue às leis de mercado, com menor intervenção estatal. Segundo seus defensores, a presença do Estado na economia inibe o setor privado e freia o desenvolvimento. Como consequência dessas idéias o Estado deve ser “mínimo”.
Entretanto, a corrente crise evidencia a fragilidade de tais idéias neoliberais. A tese do “Estado mínimo” está falida. Quem defende que o mercado tudo resolve está contra a corrente, é hostil à realidade. Revalidam-se as teses de Celso Furtado e outros economistas defensores de Estados com setores financeiros fortes e indutores permanentes de crescimento, desenvolvimento e estabilidade.
Governos que se deixaram dominar pelas idéias neoliberais, que renunciaram a ter empresas e bancos estatais poderosos, estão, agora, em maus lençóis. Não podem socorrer suas economias, nem induzi-las a terem menores diminuições de seus PNBs.
Um dos países que permitiu a destruição de suas empresas e bancos estatais, vendo agora sua economia ter desastrosa diminuição do PNB, com quase nada a ser feito no sentido de protegê-la é o México. Em sua economia não há nada de entidades semelhantes ao nosso BNDS, Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal.
O governo brasileiro presidido por Lula felizmente não deixou ser destruído seu setor bancário estatal, e, por isso, está podendo tomar medidas eficazes contra a crise e seus efeitos negativos. Assinale-se aqui que esta manutenção do setor bancário estatal exigiu coragem e valor. No governo anterior- o de FHC – haviam pressões terríveis no sentido da privatização escandalosa não só do setor bancário, mas também das outras empresas rentáveis estatais brasileiras.Uma boa documentação a respeito das nefastas privatizações empreendidas por FHC são os textos jornalísticos e livros de autoria do renomado jornalista Aloysio Biondi. Claro que as entidades finaceiras Estatais e a Petrobrás só escaparam das privatizações do Governo FHC porque tiveram ferrenhas defesas dos patriotas e nacionalistas que atuavam na política da época .
Embora a esquerda tenha, nas últimas décadas, tido seus méritos por ter defendido um papel ativo para o Estado na diminuição das desigualdades, é verdade que também cometeu inúmeros erros. Não resistiu o necessário á proposta de desregulamentação Neoliberal, nem constituiu uma alternativa econômica á teoria neoclássica. Keynes teve uma esquerda desenvolvimentista medíocre que pregava a irresponsabilidade fiscal, que muitos políticos sabem ser desastrosa.
Na década de 80, a esquerda rendeu-se de forma despudorada ao neoliberalismo. O acontecimento mais triste dessa rendição, sem dúvida, foi a virada para a direita ocorrida na França e empreendida por François Mitterrand.
Como os chineses nos ensinam, época de crise é também época de oportunidades.
Diante desta, temos a chance de resgatar muitas das virtudes dos pensamentos de esquerda, pondo-os em prática em benefício da população de nosso país. Entre eles está o de que os bancos estatais devem ser preponderantes, assegurando à economia mais equilíbrio e desempenho.
A manutenção do vigor do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do BNDS, são fatores que estão a beneficiar o nosso país.
Adam Smith- em seu livro A Riqueza das Nações- nos deixou uma lição que agora mais que nunca não pode ser esquecida: infeliz da nação que se deixa dominar pelos banqueiros privados.

Economista formado pela USP