terça-feira, 15 de janeiro de 2013

FICHA DE LEITURA DE UM LIVRO REVELADOR

* Leon Bevilaqua

              CELSO FURTADO E O MINISTÉRIO DA CULTURA

          O líder intelectual do desenvolvimentismo, autor de vários livros notáveis de História e Economia, o defensor incansável da industrialização brasileira, o idealizador da Sudene, o Ministro do Planejamento, o economista patriota, todos conhecem.
             UM HOMEM MENOS CONHECIDO
          O leitor culto e atento de literatura nacional, intensamente brasileiro e cidadão mundial, se revela ao grande público no livro Ensaios sobre a Cultura, volume cinco da coleção Arquivos Celso Furtado, editado pela Contraponto em abril de 2012, com útil introdução da viúva de Celso Furtado, a senhora Rosa Freire D’Aguiar Furtado.
          Desde jovem, Celso Furtado percebera que “o instrumental da economia era insuficiente para entender os problemas do Brasil e do mundo; e que o uso generalizado, e até abusivo, da matemática, e dos grandes modelos econométricos, deixara de lado outras variáveis importantes”.
          Entre os significantes ensaios feitos por Celso Furtado, constam neste livro a homenagem a Jorge Amado e o discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em 1997.
          Em textos esclarecedores, evidencia-se o pensador das relações entre economia e cultura, o formulador de políticas culturais quando foi Ministro da Cultura entre os anos de 1986 a 1988 – no governo Sarney. Hoje se sabe que um dos méritos do presidente Sarney foi ter tido Celso Furtado como ministro.
          Ele foi indicado para o cargo por Sarney, após receber o presidente abaixo assinado com 176 assinaturas, encabeçado por Oscar Niemeyer, Antônio Cândido, Antônio Houaiss, Barbosa Lima Sobrinho, Chico Buarque, Tom Jobim e muitos outros intelectuais.
          Em textos breves e qualificados, Celso nos falou de Darcy Ribeiro, Jorge Amado, Machado de Assis, Euclides da Cunha e outros brasileiros das letras. Referiu-se, também, à sua atuação no Ministério da Cultura, nos quase três anos em que nele permaneceu.
          Neste volume, existem dois artigos de intelectuais ligados à cultura, um de Oswaldo de Araújo e outro de Fábio Magalhães. Ambos abordam a ação de Celso Furtado no Ministério da Cultura. O livro é finalizado com duas entrevistas com Celso Furtado, a primeira feita a Hélène D’arc e Hélène le Doaré, e a segunda a Gabriela Marinho.
          Esta obra revela um lado menos conhecido de Celso Furtado, mas não menos importante e merecedor de atenção.
          NOTAS:
          1) Trecho da homenagem a Jorge Amado:
          “As considerações que aqui faço são de um leitor sem maiores pretensões, que durante meio século acompanhou a montagem desse formidável afresco da sociedade nordestina que são os seus livros, nos quais tanto aprendemos sobre o que somos e como somos”.
          2) Trechos do ensaio – Machado de Assis: contexto histórico:
          a) “a mistura de ceticismo e humorismo que constitui o cimento desta obra revela um pensador subterrâneo que enviasse mensagens aos leitores do futuro”.
          b) “só a continuidade do sistema monárquico com sua simbologia encarnada na pessoa do imperador explica a preservação da unidade nacional brasileira”.
          3) No ensaio – Machado Metafísico, Celso Furtado manifestou especial apreço ao conto machadiano “Pai contra Mãe”, considerando-o um autêntico ensaio sociológico.
          4) No ensaio- Pressupostos da política cultural, Celso Furtado nos fala de um velho e bom princípio da economia política: “ Ao Estado cabe mais do que abrir espaço para que atuem as forças do mercado. Tarefa não menos importante é introduzir modificações estruturais que corrijam a tendência à concentração da renda e da riqueza”.
          NOSSO COMENTÁRIO:
         
          Na sofrida década de 90, do século passado, no Brasil, Argentina, Peru e Chile, os governos neoliberais deixaram de lado a introdução de políticas estruturais que corrigissem a tendência à concentração de riqueza. Mais que isso, privativistas apoderaram-se do Estado e realizaram a privatização de grandes empresas estatais. Ainda há quem tente, ferozmente, voltar ao governo federal para se apoderar de empresas básicas e essenciais à nação, como a Petrobrás, o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa Econômica.