*Leon
Bevilaqua
Texto em que se afirma que um homem
até hoje demonizado era um homem bom, amigo do povo e patriota.
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Importância da biografia de Goulart
A biografia de João Goulart nos
fornece meios para compreender este início de milênio em nosso país.
Os problemas econômicos, políticos,
sociais e culturais que nos cercam podem ser compreendidos com o estudo da
época em que viveu Goulart.
No entanto, Jango (como era
popularmente chamado), até pouco tempos atrás, era um presidente da República
pouco estudado. Isto aconteceu porque os que o depuseram em abril de 1964 o
estigmatizaram. Estimularam tanto o ódio contra ele que em 1976, por ocasião de
sua morte, doze anos após ter partido para o exílio, militares queriam impedir
que ele fosse sepultado em sua terra natal, São Borja, no Rio Grande do Sul. Só
com a intervenção do então presidente, general Geisel, é que se permitiu que
fosse enterrado no Brasil, mesmo assim com a condição de que o caixão viesse
lacrado e não fosse aberto em nosso país.
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A publicação de uma biografia
Esta situação foi substancialmente
alterada em 2011, com a publicação do notável livro João Goulart - Uma
biografia, de autoria do historiador Jorge Ferreira, pela editora Civilização
Brasileira, um selo da Editora José Olímpio Editor.
Neste livro ficaram bem claros
alguns pontos da vida de Goulart, entre eles o papel político de um homem bom e
amigo dos humildes, herdeiro do carisma de Getúlio, embora não tão hábil. As
informações aqui trazidas foram baseadas principalmente neste livro.
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Sobre a avaliação de Goulart no livro
de Ferreira
Jango não foi apenas um protagonista
de um equívoco político como propagam alguns conservadores, ele foi mais que
isso. Um patriota, homem que não deixou de estar sempre ao lado do povo, um
desenvolvimentista consequente. Disse ele um dia: “Não troco um único
trabalhador por cem granfinos arrumadinhos”.
Jango tinha a intenção de levar adiante
o projeto desenvolvimentista de Getúlio, com investimentos na infraestrutura
econômica, em bens de produção e na ampliação dos direitos sociais dos
trabalhadores.
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Algumas realizações importantes de
Goulart
Quando houve possibilidade, embora lidasse
com difíceis negociações financeiras e políticas, Goulart deu continuidade ao
projeto desenvolvimentista. Incrementou em 20% a capacidade de geração de
energia elétrica; elaborou os planos para sete quedas – que depois serviriam de
base para a construção de Itaipu; a Petrobrás passou a contar com as refinarias
Alberto Pasqualini, no Rio Grande do Sul, Gabriel Passos e Artur Bernardes, em
Minas Gerais, Landulfo Alves, na Bahia, e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
Oleodutos como os de Belo Horizonte
e Porto Alegre foram construídos, bem como unidades industriais que permitiram
ao país contar com um polo petroquímico genuinamente nacional.
Ele providenciou que a companhia
Vale do Rio Doce construísse o porto de Tubarão, inaugurou as usinas siderúrgicas
da Cosipa, Cariacica, Usiminas e Aço de Vitória, além da Eletrobrás.
Estabeleceu também as bases para a
criação da Embratel, com a regulação do código brasileiro de comunicações e a
criação do Conselho Nacional de Comunicação.
Atuando em outras áreas, executou o
plano nacional de educação, financiou apartamentos em conjuntos habitacionais,
inaugurou hospitais regionais da previdência social e incentivou a
sindicalização rural.
Enviou, ainda, a mensagem ao
Congresso Nacional propondo a criação do 13º salário para os trabalhadores.
Isso se concretizou por meio da Lei 4.090/1962. Até hoje existem os que tramam
acabar, na prática, com o 13º, propondo seu parcelamento em 12 vezes ao longo
do ano.
Uma vitória do programa reformista
de Goulart foi a aprovação, em março de 1964, pelo Congresso Nacional, do
Estatuto do trabalhador rural, anteriormente proposto. A nova legislação
estendia aos trabalhadores rurais os mesmos direitos que os assalariados
urbanos usufruiam desde 1930, com carteira assinada, férias, salário mínimo,
repouso semanal remunerado, entre outros benefícios.
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Conclusões de Leitura
Uma das conclusões a que se chega
após a leitura do livro de Jorge Ferreira e outros também valiosos autores é
que Lacerda, um jornalista brilhante, um protagonista de uma época, escolheu
sempre desempenhar o papel de vilão, um perseguidor dos bons políticos, dos
patriotas, dos amigos do povo, dos que defendiam os interesses e a soberania do
Brasil. Assim, Lacerda perseguiu de forma implacável Getúlio, Juscelino e
Goulart, colocando-se sempre a reboque dos inimigos de nosso país.
Concluímos também que Goulart ainda
está por receber uma avaliação mais definitiva da História Brasileira. Ele não
está no lixo da História Nacional. Acreditamos que o saldo de seu trabalho de
homem público é bastante positivo, e que este saldo é que estabelecerá a
avaliação definitiva, já livre das paixões patrimonialistas e antinacionais que
caracterizaram o tempo de Goulart e que ainda querem se impor nos dias de hoje.
Notas:
1) Goulart nasceu em São Borja, no
Rio Grande do Sul, em 1º de janeiro de 1919 e morreu em Mercedes, Argentina, em
06 de dezembro de 1976. Ele foi o 24º presidente de nosso país.
2) Leituras importantes para a
compreensão das vidas de Getúlio, Juscelino, Jânio Quadros e Jango:
a. de Hélio Silva:
- Um tiro no coração- LPM- Editora.
- Juscelino Kubitshek – 19º
presidente do Brasil. Grupo de comunicação três.
b. de Celso Furtado:
- Obra autobiográfica – Companhia
das Letras.
c. De Jorge Ferreira
- João Goulart – Uma Biografia –
Editora Civilização Brasileira.
3) O golpe de 64 existiu, entre
outras razões, porque havia uma grande pressão política para o aumento do
salário mínimo. O presidente estava posicionado ao lado daqueles que desejavam
ampliar o poder aquisitivo dos trabalhadores. Aliás, o que os conservadores
chamavam de “comunismo”, na década de 60 era, entre outras coisas, defender o
poder aquisitivo do salário mínimo.
4) Recentemente, comandados pela
presidente Dilma Roussef, grandes esforços foram realizados no sentido de que
haja uma plena recuperação da imagem de Goulart perante a História oficial
brasileira. No entanto, ainda são grandes as resistências para que isso ocorra.
Os antinacionais e seus agregados comandam este processo de resistência. Eles
continuam querendo que as empresas estatais asseguradoras da soberania
nacional, como a Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES e
outras sejam entregues aos capitais privados.
5) A bem da verdade, é preciso que
se diga que o governo de Goulart e os governos militares que ocorreram depois
de 1964 tiveram o mérito de não ter caráter antinacional, como os neoliberais
da década de 90, na América Latina. Esses neoliberais, que trouxeram regressão
social e econômica para seus países, entregaram grande parte dos patrimônios
públicos aos grandes capitais externos. Além disso, os militares brasileiros
tiveram a virtude adicional de levar adiante os grandes planos deixados por
Goulart, acelerando a integração nacional com o início da construção da
transamazônica e criação de grandes empresas. Geisel foi um grande
desenvolvimentista, criador de grandes estatais necessárias ao desenvolvimento
de um Brasil plenamente livre.
6) Duas palavras para Jango: injustiçado
e caluniado.