*Leon Bevilaqua
No futuro, muitos serão os escritos a respeito da primeira presidenta do Brasil, a economista Dilma Rousseff. Por inúmeras razões, entre elas o grande valor e coragem por ela demonstrados no decorrer da campanha eleitoral presidencial de 2010, quando enfrentou José Serra, um neoliberal entreguista que contou com apoio integral da velha imprensa. Aliás, valor e coragem nunca faltaram a esta mulher que se bateu contra um câncer pouco tempo antes de se candidatar a presidente, tendo sempre enfrentado consideráveis adversidades. Suas lutas em favor do povo mais sofrido desse país, antes e depois de assumir a presidência, terão se transformado em verdadeira lenda dos tempos atuais-apesar das tecnologias de documentação já existentes.
Neste futuro, ainda se falará da obra pioneira de Ricardo Batista do Amaral, seu primeiro biógrafo, jornalista autor do livro “A vida quer é coragem”. No texto, é abordada a vida de uma mulher sensível e resoluta, que ama a obra de Cecília Meirelles, que gosta em especial do poema que diz:
“Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar/ e a voltar sempre inteira”.
Estes versos constituem a síntese da trajetória dessa mulher incomum.
Ela foi a primeira mulher a ocupar cargo de chefia relevante na prefeitura de Porto alegre e no estado do Rio Grande do Sul.
Nos governos do presidente Lula, a primeira mulher ministra das minas e energia e chefe da casa civil. Nesses cargos, demonstrou capacidade ímpar de gestora, o que levou Lula a indicá-la como candidata a presidente e a apoiá-la na escalada á presidência da república.
É a leitura deste livro, que conta a trajetória de Dilma e boa parte da história política de nosso país no século passado, que recomendamos aqui.
Livro recomendado:
A vida quer é coragem.
Assunto: Biografia de Dilma Rousseff inserida num fundo histórico
Autor: Ricardo Batista Amaral
1ª Edição
Acabamento: brochura
Formato médio: 15,9 cm X 23 cm
Capítulos: 22
Peso: 680 g
Editora: Primeira pessoa- Sextante.
Número de páginas:304
Ano de Publicação:2011.
Notas:
1) Entre os resultados da pesquisa feita por Ricardo Batista do Amaral para escrever esse livro, está o achado da foto de Dilma sendo interrogada pela justiça militar em novembro de 1970, que está inserida no livro e em sua contra-capa.
Dizem que essa foto fará com que Dilma entre para a História, mas Dilma dela fará parte sobretudo pelas suas políticas de inclusão social e proteção do patrimônio público da ganância de certos privativistas.
2) O texto do livro é elegante e preciso. Uma das melhores reportagens políticas já escritas nos últimos tempos. É também um ensaio sobre uma nação que se deixou cortar por décadas até se revelar novamente inteira.
3) Ricardo Batista Amaral faz parte de um escolhido grupo de amigos da presidenta, de quem cuida e troca confidências.
4) O pai de Dilma, Pedro Roussef, era um homem culto e bastante amigo da filha. Foi ele quem lhe apresentou os clássicos Zola, Dostoievsky e Balzak, que foram bastante lidos por ela.
5) O autor deixou de citar um importante fato do segundo turno das eleições presidenciais, ocorrido em 16 de outubro de 2010, num sábado, em Canindé do Ceará, na Igreja de São Francisco. Em missa oficiada pelo Frei Francisco Gonçalves, um religioso de reconhecida bondade, nordestino de Campina Grande, o então candidato a presidência José Serra e o ainda Senador Jereissati foram desmascarados em suas campanhas pseudo religiosas pelo oficiante que, quase ao final da missa, proibiu a distribuição de panfletos detratores de Dilma, falsamente atribuídos e assinados pela CNBB.
O político Tarso Jereissati - que acompanhava a missa ao lado de José Serra, se exaltou e afirmou que "eram uns padres petistas como aqueles que estavam causando problemas à Igreja". Partidários de Jereissati e José Serra também se exaltaram e o Frei teve que ser escoltado na saída da Igreja.
O infortúnio de Serra começou já ao chegar ao local, quando foi vaiado do lado de fora da igreja por manifestantes pró Dilma. Na saída, o candidato chegou a ser empurrado em novo conflito em que quase caiu.
Apesar dos papéis nada edificantes desempenhados por certos líderes religiosos na campanha presidencial de 2010, ainda restam valorosos líderes como Frei Francisco Gonçalves, Dom Pedro Casaldáliga e Dom Tomaz Balduíno, que não se associam com poderosos e mantém seus compromissos com os ensinamentos do mestre.
6) No fim do capítulo 21 do livro, na página 298 desta edição, o autor nos fala do papel desempenhado pelo Papa na eleição presidencial de 2010. É um dos tópicos mais importantes do livro.
7) No texto é abordada a importância do apagão elétrico no governo FHC/Serra - que possibilitou em grande medida a ascensão de Dilma.
8) Nos blogs da revista Veja, sempre mordazes em relação aos trabalhistas e amigos do povo, esse livro foi classificado como hagiografia.
quinta-feira, 15 de março de 2012
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Algumas reflexões brasileiras no 1º centenário da morte de Leão Tolstói
Leon Bevilaqua
Estamos vivendo no ano do 1º centenário da morte de Leão Tolstói, ocorrida em 1910. Tornam-se oportunas algumas reflexões sobre sua vida, sua obra, seu pensamento e atualidade.
Sua obra, por ter grande amplitude e variedade de gêneros - o conto, a novela, o romance, o teatro, a doutrinação estética, social e moral, abrange algumas milhares de páginas. Mas até hoje, ao levarmos adiante a leitura de seus escritos, os ganhos estão assegurados.
Ele foi o criador do quadro mais vasto e grandioso dos destinos da vida humana. Isto jamais ocorreu nas línguas modernas, depois das epopeias gregas e latinas.
Guerra e Paz, seu livro mais importante, foi publicado entre 1865 e 1869 em um periódico da época. Ele foi escrito na temporada mais feliz da vida de Tolstói. É um painel imenso das alternativas da paz e da guerra, um romance notável, acoplado a muitas considerações úteis até hoje aos que aspiram escrever obra de arte ou não.
Sobre o adultério e suas decorrências, jamais alguém falou com mais propriedade que ele em Anna Karenina (1875) e Sonata a Kreutzer. Este último livro é um libelo contra o casamento, nele se manifestando pela primeira vez em sua obra - com pujança- a ideia moral que preside a segunda e última fase de sua obra. Essa segunda fase é por muitos considerada sombria. Nela estão relacionados como principais os seguintes livros: 1º A morte de Ivan Ilitch – de 1886- um de seus trabalhos mais perfeitos do ponto de vista artístico. É um relato comovente em que as ideias de Tolstoi não aparecem de uma forma explícita, mas são sugeridas graças à mestria das análises psicológicas. Entre os temas abordados no desenrolar dessa história de um homem que agoniza em meio a tremendos sofrimentos, destacam-se os seguintes: a mediocridade da vida burocrática, o orgulho e a tentativa de exclusão dos mais pobres, as desilusões e hipocrisias no casamento e a angústia perante a proximidade da morte. Mas o grande tema abordado, sem dúvida, é o conflito entre a ciência e as verdadeiras necessidades e aspirações do ser humano. 2º Sonata a Kreutzer – de 1890- um livro que nos fala de ciúme, violência e hipocrisia – é a primeira de suas obras francamente doutrinárias; 3º Ressurreição - de1899- este livro foi lançado pouco mais de dez anos antes de Tolstoi morrer, foi seu último romance. Na época em que foi publicado, o autor, já famoso, era mais conhecido pelas críticas sociais e religiosas do que propriamente como escritor de ficção. Ressurreição é um dos melhores romances de todos os tempos, demonstra a interdependência entre privilégio e violência através de um preciso desvendamento das relações de poder na sociedade.
É texto impregnado de espírito evangélico, um libelo contra a justiça dos tribunais russos da época em que viveu o autor. Leitura de utilidade para os diversos profissionais das lides jurídicas, é obra em que o mestre russo fala muito de dinheiro e também dos feitos dos advogados para obtê-lo para seus clientes. A leitura desta obra é uma oportunidade valiosa de passarmos a entender mais da atualidade em que vivemos. Só um escritor que amasse profundamente a humanidade poderia tê-la escrito.
Quando se trata de autores como Tolstói, todos os seus trabalhos são importantes, principais, inclusive os que alguns consideram menores, como - De quanta terra precisa o homem?- texto pertencente às suas lendas populares. Nestas poucas páginas, Tolstói nos fala dos contrastes da vida rural e urbana, da ganância humana sempre em busca da posse da terra para ter símbolo de status e domínio social.
As lutas terríveis e assassinas pelas terras das novas fronteiras agrícolas brasileiras- (Pará, Mato Grosso, Roraima e outros) – nos evidenciam a utilidade da leitura e análise de textos pertinentes e oportunos como esse.
Muito do pensamento de Tolstói foi mal recebido pela Igreja Ortodoxa Russa, pois ele questionava a necessidade de existência do corpo clerical, criticando fortemente a aproximação da Igreja em relação ao Estado. O comportamento nada ético de muitos clérigos da Igreja Católica e algumas seitas evangélicas nas eleições brasileiras de 2010, nos fez ter cogitações semelhantes às de Tolstói. Nestas eleições, até o Papa teve comportamento nada recomendável, ao tentar dar sustentação ao candidato presidencial mais antiético.
Afortunadamente o povo brasileiro manifestou, uma vez mais, o seu bom senso. O resultado das eleições foi favorável às forças desenvolvimentistas ligadas aos interesses populares. No plano federal, foram derrotados os equivocados privativistas e entreguistas pelos quais tantos setores clericais torceram e trabalharam desde antes do golpe de 1964.
Tolstói foi um mestre do realismo e várias de suas observações gozam de indiscutível perenidade. Eis aqui três delas:
1ª) “ Um estadista honesto e virtuoso é uma contradição interna tal como uma prostituta casta ou um alcoólatra sóbrio”.
Quantos dos políticos atuais brasileiros desmentem essa constatação do pensador russo?
2ª) “ Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas!”
3ª) “ Se queres ser universal, fale de tua aldeia”. Ou seja, para ser universal, é preciso somente estar atento ao seu mundinho particular.
Lenin, no artigo “Lev Tolstói como espelho da revolução russa”, sublinha o papel do escritor como um denunciador dos maiores males e chagas da sociedade capitalista. Como Tolstói, apesar de suas brigas com o clero ortodoxo russo era um místico idealista procurando reencontrar a caridade do cristianismo primitivo, Lenin concluiu seu artigo falando do atraso de Tolstói em relação a determinadas questões.
Tudo indica que, assim como as grandes epopeias gregas e latinas atravessaram os milênios, também a obra monumental de Tolstói conseguirá tal feito. Em todas as fases de seus trabalhos, Tolstói foi vigoroso na descrição dos detalhes e na animação dos grandes afrescos históricos e sociais. A exemplo de outros mestres da literatura, em todas as histórias que contou, o dinheiro é o personagem principal.
Finalmente, queremos reiterar aqui a importância da maior parte do pensamento de Tolstói, sua leitura historicamente útil, proveitosa; mesmo quando abordando utopias com as quais todos um dia sonhamos e que jamais serão realizadas.
Notas:
1) No 1º centenário da morte de Tolstoi, parte dos russos pede que a igreja ortodoxa russa perdoe o autor de Guerra e Paz, anulando sua excomunhão de fevereiro de 1901.
2) Já bastante conhecido e afamado, tendo já escrito sua obra-prima Guerra e Paz, Tolstói, após uma doença, durante cuja convalescência teve oportunidade de ler Shakeaspeare,Molière e outros grandes dramaturgos, resolveu escrever também para o teatro. Na extensa obra de Tolstói, é o seu teatro parte pequena. Ele o escreveu depois dos 58 anos e não são mais que cinco peças.
*Relação das cinco peças teatrais escritas por Tolstói*
1ª)O poder das trevas - drama em 5 atos
2ª)O cadáver vivo - drama em 6 atos
3ª)Os frutos da civilização - comédia em 4 atos
4ª)O vagabundo - comédia em 2 atos
5ª)O mujique e o operário - comédia em 6 quadros
Existem adaptações de textos de Romances, contos e novelas de Tolstói para peças teatrais. Algumas destas adaptações são originadas em parte do texto de Guerra e Paz e outras narrativas. Senhor e Servo originou uma bela peça teatral.
“E uma luz brilha na escuridão”- é uma bela peça baseada em texto de Tolstói, que deverá ser encenada na Alemanha e na Rússia dentro em breve. A peça aborda o tema de como se deve viver de fato.Compartilhar tudo, dar tudo que se possui conforme pretendeu fazer Tolstoi em sua velhice, ou seria o caso de cuidar de si mesmo. Se pensarmos na crise econômica e nos salários dos executivos, o tema é bastante atual. Ele tencionava dar seus valiosos bens no fim de sua vida, mas foi impedido por pressões de sua esposa, familiares e amigos. Por não ter feito tal doação, após sua morte, foi classificado como hipócrita por seus detratores. Eles não levaram em conta o fato de que o escritor destinara boa parte dos direitos autorais dos livros que escreveu a atos humanitários, inclusive os direitos do livro Anna Karenina.
3) O cineasta Serguei Eisenstein disse que “Anna Karenina” era de um moralismo feroz, e é verdade, é uma condenação do adultério. Ao mesmo tempo, apresenta uma compreensão, uma capacidade de transmitir os nuances, os sentimentos humanos, diante das quais essa finalidade inicial quase desaparece. Anna Karenina foi considerada por Dostoievski, em seu DIÁRIO DE UM ESCRITOR,"uma obra de arte perfeita".
4) Alexander Tolstói, bisneto de Leão Tolstói-(1828-1910)- participou - no fim do ano de 2010 - de atividades em Montevidéu que lembraram a morte do escritor russo há cem anos. Ele forneceu aos organizadores do evento abundante material fotográfico e bibliográfico entre outros. “Quando Leão morreu, o mundo chorou a morte de um dos maiores escritores, mas também de toda uma autoridade moral” – disse o descendente que há oito anos reside em Punta del este, a cerca de 140 Km de Montevidéu.
5) A atriz britância de origem eslava Helen Mirren defendeu as ideias de Tolstói ao afirmar, no 1º centenário de sua morte, que “qualquer Deus teria aceitado em seu céu o escritor russo”- excomungado desde 1901 por suas críticas à igreja ortodoxa. “Afinal de contas, sempre foi querido pelas pessoas, mas não pelo governo”, afirmou Mirren que recentemente interpretou Sofia, a esposa do autor no filme “A última estação” de Michaell Hoffman.
6) O pacifismo messiânico de Tolstói deixou uma boa marca na História: Mahatma Gandhy foi um dos seus mais ilustres discípulos, como também Martin Luther King. Gandhy e Tolstói trocaram cartas. É nítida a influência do pensamento de Tolstói na longa vida política de Gandhy. A correspondência entre Tolstói e Gandhy duraria somente um ano. De outubro de 1909 a novembro de 1910.
7) Minha vida – As memórias de Sofia Andreevna Tolstaia – esposa de Tolstoi – é um livro lançado em inglês em maio de 2010 pela Otawa University Press – sem tradução ainda para o português. Sofia, inicia sua narrativa contando sua infância.
8) Tolstói -em Guerra e Paz -foi acusado pelos críticos da época de embaralhar fatos e ficção.
9)Para teólogos como Leonardo Boff- O Reino de Deus está em vós (1878) – é um dos livros mais importantes que Tolstói escreveu, tendo influenciado Gandy e Martin Luther King.
10) Guerra e Paz é a grande epopéia da nação russa. Ela se refere a um importante período histórico, de cerca de quinze anos- de 1805 quando ocorreu a primeira guerra entre a Rússia czarista e a França de Bonaparte, a 1820 quando se tornaram perceptíveis os sinais da insurreição dos dezembristas. São quinze anos de história da Rússia repletos de acontecimentos decisivos. O ambiente agitado é o cenário em que viveram as personagens do romance.
11) Tolstói, está fora de dúvida, foi um homem que em toda sua vida procurou com zelo fanático a verdade. Daí decorreu o caráter autobiográfico de sua obra que acompanha todas as vicissitudes de sua vida. Guerra e Paz, um trabalho menos autobiográfico, é sua obra mais objetiva, mas também corresponde a uma fase de sua biografia, a época feliz do casamento, da vida de grande senhor rural e grande escritor. Ressurreição é o apogeu da “ literatura de acusação contra o sistema político e social russo”, contra as colunas da sociedade russa. Em 1898, no mês de setembro, Tolstói visitou uma prisão, coletando dados para escrever Ressurreição. Em 1900 - janeiro, recebeu visita de Gorki, que dele escreveu: " Agradou-me; é um verdadeiro homem do povo".
12) Tolstói, como muitos outros bons escritores, produziu uma obra prima atrás da outra, mas morreu sem ganhar o prêmio Nobel.
13) Tolstói nasceu em 9 de setembro de 1828- em Iasnaia Poliana, uma propriedade rural de sua família, a cerca de duzentos quilômetros de Moscou, onde viveu quase toda sua vida. A mansão existente nessa propriedade é muito bem cuidada até hoje pelo estado russo. Seu túmulo fica nessa propriedade. É notável a simplicidade das acomodações ocupadas por Tolstói em vida.
14) Algumas outras frases notáveis de Tolstói:
No fim do caminho está a liberdade. Até lá, paciência.
Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para fogueira.
Dizer que vai amar uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto vivermos.
Não existe grandeza onde não há simplicidade, bondade e verdade.
Não se pode ser bom pela metade.
A vida matrimonial lembra uma barca que conduz duas pessoas em águas tempestuosas. Se qualquer uma das duas faz movimentos muito bruscos, a barca afunda.
As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.
A razão não me ensinou nada. Tudo o que eu sei foi-me dado pelo coração.
É no coração do homem que reside o princípio e o fim de todas as coisas.
... a verdade é que tudo neste mundo, exceto Deus, é uma brincadeira.
15) Se compararmos o livro Anna Karenina com Guerra e Paz, constata-se que é um romance de estrutura mais afinada com a dos romances modernos, sem as longas digressões da obra anterior, com um núcleo dramático mais definido.
16) Chopin era o compositor preferido de Tolstói. Sonata a Kreutzer, no entanto, é um livro dele homônimo de uma peça musical de Beethoven.
17)Tolstói estudou música e se converteu em pianista. No capítulo VI do livro Primeiras reminiscências e recordações - de sua autoria - ele nos fala que tocava com sua amiga e parenta Tatiana Alexandrovna Ergolskaia, a quatro mãos, tendo se surpreendido com a segurança e a técnica de sua execução. O pai de Tolstói falava alemão e ele também. Tinha sotaque saxão, como seu preceptor alemão na infância. Como ser dotado de significativa inteligência e assimilação rápida, Tolstoi aprendeu várias outras línguas. Chegou a escrever fluentemente em francês e inglês, tendo, inclusive, mantido correspondência com intelectuais dessas duas línguas. Dominou o grego de tal forma que suas traduções eram mais perfeitas do que a de professores daquela língua clássica.
18) Tolstói foi casado por 48 anos. Deixou viúva Sofia Andreevna Tolstaia, que dele engravidou 15 vezes.
19)Tolstói entendia de muitos assuntos, como demonstrou ao longo de sua obra. No livro Khadji Murat, por ele planejado por tanto tempo e publicado em 1912, após sua morte, o grande assunto por ele abordado com competência foi a rivalidade. Rivalidade não só entre dois homens - Khadji e Chamil - mas também entre povos. Após a leitura desta curta novela ficam algumas conclusões: Khadji Murat é uma das melhores novelas até hoje escritas, sendo fundamental para que se compreenda o percurso de Tolstói ao longo de sua obra. Tolstói foi homem de intensas leituras. "Fausto", "Dom Quixote" e "Os Miseráveis" foram consideradas por ele obras muito importantes. Em carta a um amigo, afirmou: " ... de todas as ciências que o homem pode e deve saber, a principal delas é a de viver fazendo o mínimo possível de mal e o máximo possével de bem". Tolstói foi um moralista e, sendo assim, deve ser compreendido e louvado.
20) Os descendentes de Tolstói vivem em 25 países. São mais de 350 pessoas. Entre os países em que eles residem, relacionam-se os seguintes: Rússia, França, Itália, Suécia, EUA, Grã Bretanha, Uruguai e Brasil.
Estamos vivendo no ano do 1º centenário da morte de Leão Tolstói, ocorrida em 1910. Tornam-se oportunas algumas reflexões sobre sua vida, sua obra, seu pensamento e atualidade.
Sua obra, por ter grande amplitude e variedade de gêneros - o conto, a novela, o romance, o teatro, a doutrinação estética, social e moral, abrange algumas milhares de páginas. Mas até hoje, ao levarmos adiante a leitura de seus escritos, os ganhos estão assegurados.
Ele foi o criador do quadro mais vasto e grandioso dos destinos da vida humana. Isto jamais ocorreu nas línguas modernas, depois das epopeias gregas e latinas.
Guerra e Paz, seu livro mais importante, foi publicado entre 1865 e 1869 em um periódico da época. Ele foi escrito na temporada mais feliz da vida de Tolstói. É um painel imenso das alternativas da paz e da guerra, um romance notável, acoplado a muitas considerações úteis até hoje aos que aspiram escrever obra de arte ou não.
Sobre o adultério e suas decorrências, jamais alguém falou com mais propriedade que ele em Anna Karenina (1875) e Sonata a Kreutzer. Este último livro é um libelo contra o casamento, nele se manifestando pela primeira vez em sua obra - com pujança- a ideia moral que preside a segunda e última fase de sua obra. Essa segunda fase é por muitos considerada sombria. Nela estão relacionados como principais os seguintes livros: 1º A morte de Ivan Ilitch – de 1886- um de seus trabalhos mais perfeitos do ponto de vista artístico. É um relato comovente em que as ideias de Tolstoi não aparecem de uma forma explícita, mas são sugeridas graças à mestria das análises psicológicas. Entre os temas abordados no desenrolar dessa história de um homem que agoniza em meio a tremendos sofrimentos, destacam-se os seguintes: a mediocridade da vida burocrática, o orgulho e a tentativa de exclusão dos mais pobres, as desilusões e hipocrisias no casamento e a angústia perante a proximidade da morte. Mas o grande tema abordado, sem dúvida, é o conflito entre a ciência e as verdadeiras necessidades e aspirações do ser humano. 2º Sonata a Kreutzer – de 1890- um livro que nos fala de ciúme, violência e hipocrisia – é a primeira de suas obras francamente doutrinárias; 3º Ressurreição - de1899- este livro foi lançado pouco mais de dez anos antes de Tolstoi morrer, foi seu último romance. Na época em que foi publicado, o autor, já famoso, era mais conhecido pelas críticas sociais e religiosas do que propriamente como escritor de ficção. Ressurreição é um dos melhores romances de todos os tempos, demonstra a interdependência entre privilégio e violência através de um preciso desvendamento das relações de poder na sociedade.
É texto impregnado de espírito evangélico, um libelo contra a justiça dos tribunais russos da época em que viveu o autor. Leitura de utilidade para os diversos profissionais das lides jurídicas, é obra em que o mestre russo fala muito de dinheiro e também dos feitos dos advogados para obtê-lo para seus clientes. A leitura desta obra é uma oportunidade valiosa de passarmos a entender mais da atualidade em que vivemos. Só um escritor que amasse profundamente a humanidade poderia tê-la escrito.
Quando se trata de autores como Tolstói, todos os seus trabalhos são importantes, principais, inclusive os que alguns consideram menores, como - De quanta terra precisa o homem?- texto pertencente às suas lendas populares. Nestas poucas páginas, Tolstói nos fala dos contrastes da vida rural e urbana, da ganância humana sempre em busca da posse da terra para ter símbolo de status e domínio social.
As lutas terríveis e assassinas pelas terras das novas fronteiras agrícolas brasileiras- (Pará, Mato Grosso, Roraima e outros) – nos evidenciam a utilidade da leitura e análise de textos pertinentes e oportunos como esse.
Muito do pensamento de Tolstói foi mal recebido pela Igreja Ortodoxa Russa, pois ele questionava a necessidade de existência do corpo clerical, criticando fortemente a aproximação da Igreja em relação ao Estado. O comportamento nada ético de muitos clérigos da Igreja Católica e algumas seitas evangélicas nas eleições brasileiras de 2010, nos fez ter cogitações semelhantes às de Tolstói. Nestas eleições, até o Papa teve comportamento nada recomendável, ao tentar dar sustentação ao candidato presidencial mais antiético.
Afortunadamente o povo brasileiro manifestou, uma vez mais, o seu bom senso. O resultado das eleições foi favorável às forças desenvolvimentistas ligadas aos interesses populares. No plano federal, foram derrotados os equivocados privativistas e entreguistas pelos quais tantos setores clericais torceram e trabalharam desde antes do golpe de 1964.
Tolstói foi um mestre do realismo e várias de suas observações gozam de indiscutível perenidade. Eis aqui três delas:
1ª) “ Um estadista honesto e virtuoso é uma contradição interna tal como uma prostituta casta ou um alcoólatra sóbrio”.
Quantos dos políticos atuais brasileiros desmentem essa constatação do pensador russo?
2ª) “ Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descer de suas costas!”
3ª) “ Se queres ser universal, fale de tua aldeia”. Ou seja, para ser universal, é preciso somente estar atento ao seu mundinho particular.
Lenin, no artigo “Lev Tolstói como espelho da revolução russa”, sublinha o papel do escritor como um denunciador dos maiores males e chagas da sociedade capitalista. Como Tolstói, apesar de suas brigas com o clero ortodoxo russo era um místico idealista procurando reencontrar a caridade do cristianismo primitivo, Lenin concluiu seu artigo falando do atraso de Tolstói em relação a determinadas questões.
Tudo indica que, assim como as grandes epopeias gregas e latinas atravessaram os milênios, também a obra monumental de Tolstói conseguirá tal feito. Em todas as fases de seus trabalhos, Tolstói foi vigoroso na descrição dos detalhes e na animação dos grandes afrescos históricos e sociais. A exemplo de outros mestres da literatura, em todas as histórias que contou, o dinheiro é o personagem principal.
Finalmente, queremos reiterar aqui a importância da maior parte do pensamento de Tolstói, sua leitura historicamente útil, proveitosa; mesmo quando abordando utopias com as quais todos um dia sonhamos e que jamais serão realizadas.
Notas:
1) No 1º centenário da morte de Tolstoi, parte dos russos pede que a igreja ortodoxa russa perdoe o autor de Guerra e Paz, anulando sua excomunhão de fevereiro de 1901.
2) Já bastante conhecido e afamado, tendo já escrito sua obra-prima Guerra e Paz, Tolstói, após uma doença, durante cuja convalescência teve oportunidade de ler Shakeaspeare,Molière e outros grandes dramaturgos, resolveu escrever também para o teatro. Na extensa obra de Tolstói, é o seu teatro parte pequena. Ele o escreveu depois dos 58 anos e não são mais que cinco peças.
*Relação das cinco peças teatrais escritas por Tolstói*
1ª)O poder das trevas - drama em 5 atos
2ª)O cadáver vivo - drama em 6 atos
3ª)Os frutos da civilização - comédia em 4 atos
4ª)O vagabundo - comédia em 2 atos
5ª)O mujique e o operário - comédia em 6 quadros
Existem adaptações de textos de Romances, contos e novelas de Tolstói para peças teatrais. Algumas destas adaptações são originadas em parte do texto de Guerra e Paz e outras narrativas. Senhor e Servo originou uma bela peça teatral.
“E uma luz brilha na escuridão”- é uma bela peça baseada em texto de Tolstói, que deverá ser encenada na Alemanha e na Rússia dentro em breve. A peça aborda o tema de como se deve viver de fato.Compartilhar tudo, dar tudo que se possui conforme pretendeu fazer Tolstoi em sua velhice, ou seria o caso de cuidar de si mesmo. Se pensarmos na crise econômica e nos salários dos executivos, o tema é bastante atual. Ele tencionava dar seus valiosos bens no fim de sua vida, mas foi impedido por pressões de sua esposa, familiares e amigos. Por não ter feito tal doação, após sua morte, foi classificado como hipócrita por seus detratores. Eles não levaram em conta o fato de que o escritor destinara boa parte dos direitos autorais dos livros que escreveu a atos humanitários, inclusive os direitos do livro Anna Karenina.
3) O cineasta Serguei Eisenstein disse que “Anna Karenina” era de um moralismo feroz, e é verdade, é uma condenação do adultério. Ao mesmo tempo, apresenta uma compreensão, uma capacidade de transmitir os nuances, os sentimentos humanos, diante das quais essa finalidade inicial quase desaparece. Anna Karenina foi considerada por Dostoievski, em seu DIÁRIO DE UM ESCRITOR,"uma obra de arte perfeita".
4) Alexander Tolstói, bisneto de Leão Tolstói-(1828-1910)- participou - no fim do ano de 2010 - de atividades em Montevidéu que lembraram a morte do escritor russo há cem anos. Ele forneceu aos organizadores do evento abundante material fotográfico e bibliográfico entre outros. “Quando Leão morreu, o mundo chorou a morte de um dos maiores escritores, mas também de toda uma autoridade moral” – disse o descendente que há oito anos reside em Punta del este, a cerca de 140 Km de Montevidéu.
5) A atriz britância de origem eslava Helen Mirren defendeu as ideias de Tolstói ao afirmar, no 1º centenário de sua morte, que “qualquer Deus teria aceitado em seu céu o escritor russo”- excomungado desde 1901 por suas críticas à igreja ortodoxa. “Afinal de contas, sempre foi querido pelas pessoas, mas não pelo governo”, afirmou Mirren que recentemente interpretou Sofia, a esposa do autor no filme “A última estação” de Michaell Hoffman.
6) O pacifismo messiânico de Tolstói deixou uma boa marca na História: Mahatma Gandhy foi um dos seus mais ilustres discípulos, como também Martin Luther King. Gandhy e Tolstói trocaram cartas. É nítida a influência do pensamento de Tolstói na longa vida política de Gandhy. A correspondência entre Tolstói e Gandhy duraria somente um ano. De outubro de 1909 a novembro de 1910.
7) Minha vida – As memórias de Sofia Andreevna Tolstaia – esposa de Tolstoi – é um livro lançado em inglês em maio de 2010 pela Otawa University Press – sem tradução ainda para o português. Sofia, inicia sua narrativa contando sua infância.
8) Tolstói -em Guerra e Paz -foi acusado pelos críticos da época de embaralhar fatos e ficção.
9)Para teólogos como Leonardo Boff- O Reino de Deus está em vós (1878) – é um dos livros mais importantes que Tolstói escreveu, tendo influenciado Gandy e Martin Luther King.
10) Guerra e Paz é a grande epopéia da nação russa. Ela se refere a um importante período histórico, de cerca de quinze anos- de 1805 quando ocorreu a primeira guerra entre a Rússia czarista e a França de Bonaparte, a 1820 quando se tornaram perceptíveis os sinais da insurreição dos dezembristas. São quinze anos de história da Rússia repletos de acontecimentos decisivos. O ambiente agitado é o cenário em que viveram as personagens do romance.
11) Tolstói, está fora de dúvida, foi um homem que em toda sua vida procurou com zelo fanático a verdade. Daí decorreu o caráter autobiográfico de sua obra que acompanha todas as vicissitudes de sua vida. Guerra e Paz, um trabalho menos autobiográfico, é sua obra mais objetiva, mas também corresponde a uma fase de sua biografia, a época feliz do casamento, da vida de grande senhor rural e grande escritor. Ressurreição é o apogeu da “ literatura de acusação contra o sistema político e social russo”, contra as colunas da sociedade russa. Em 1898, no mês de setembro, Tolstói visitou uma prisão, coletando dados para escrever Ressurreição. Em 1900 - janeiro, recebeu visita de Gorki, que dele escreveu: " Agradou-me; é um verdadeiro homem do povo".
12) Tolstói, como muitos outros bons escritores, produziu uma obra prima atrás da outra, mas morreu sem ganhar o prêmio Nobel.
13) Tolstói nasceu em 9 de setembro de 1828- em Iasnaia Poliana, uma propriedade rural de sua família, a cerca de duzentos quilômetros de Moscou, onde viveu quase toda sua vida. A mansão existente nessa propriedade é muito bem cuidada até hoje pelo estado russo. Seu túmulo fica nessa propriedade. É notável a simplicidade das acomodações ocupadas por Tolstói em vida.
14) Algumas outras frases notáveis de Tolstói:
No fim do caminho está a liberdade. Até lá, paciência.
Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para fogueira.
Dizer que vai amar uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto vivermos.
Não existe grandeza onde não há simplicidade, bondade e verdade.
Não se pode ser bom pela metade.
A vida matrimonial lembra uma barca que conduz duas pessoas em águas tempestuosas. Se qualquer uma das duas faz movimentos muito bruscos, a barca afunda.
As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.
A razão não me ensinou nada. Tudo o que eu sei foi-me dado pelo coração.
É no coração do homem que reside o princípio e o fim de todas as coisas.
... a verdade é que tudo neste mundo, exceto Deus, é uma brincadeira.
15) Se compararmos o livro Anna Karenina com Guerra e Paz, constata-se que é um romance de estrutura mais afinada com a dos romances modernos, sem as longas digressões da obra anterior, com um núcleo dramático mais definido.
16) Chopin era o compositor preferido de Tolstói. Sonata a Kreutzer, no entanto, é um livro dele homônimo de uma peça musical de Beethoven.
17)Tolstói estudou música e se converteu em pianista. No capítulo VI do livro Primeiras reminiscências e recordações - de sua autoria - ele nos fala que tocava com sua amiga e parenta Tatiana Alexandrovna Ergolskaia, a quatro mãos, tendo se surpreendido com a segurança e a técnica de sua execução. O pai de Tolstói falava alemão e ele também. Tinha sotaque saxão, como seu preceptor alemão na infância. Como ser dotado de significativa inteligência e assimilação rápida, Tolstoi aprendeu várias outras línguas. Chegou a escrever fluentemente em francês e inglês, tendo, inclusive, mantido correspondência com intelectuais dessas duas línguas. Dominou o grego de tal forma que suas traduções eram mais perfeitas do que a de professores daquela língua clássica.
18) Tolstói foi casado por 48 anos. Deixou viúva Sofia Andreevna Tolstaia, que dele engravidou 15 vezes.
19)Tolstói entendia de muitos assuntos, como demonstrou ao longo de sua obra. No livro Khadji Murat, por ele planejado por tanto tempo e publicado em 1912, após sua morte, o grande assunto por ele abordado com competência foi a rivalidade. Rivalidade não só entre dois homens - Khadji e Chamil - mas também entre povos. Após a leitura desta curta novela ficam algumas conclusões: Khadji Murat é uma das melhores novelas até hoje escritas, sendo fundamental para que se compreenda o percurso de Tolstói ao longo de sua obra. Tolstói foi homem de intensas leituras. "Fausto", "Dom Quixote" e "Os Miseráveis" foram consideradas por ele obras muito importantes. Em carta a um amigo, afirmou: " ... de todas as ciências que o homem pode e deve saber, a principal delas é a de viver fazendo o mínimo possível de mal e o máximo possével de bem". Tolstói foi um moralista e, sendo assim, deve ser compreendido e louvado.
20) Os descendentes de Tolstói vivem em 25 países. São mais de 350 pessoas. Entre os países em que eles residem, relacionam-se os seguintes: Rússia, França, Itália, Suécia, EUA, Grã Bretanha, Uruguai e Brasil.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Crise econômica atual
*Leon Bevilaqua
É preciso que fique claro, evidente para todas as pessoas: A grande crise econômica, que vem se acentuando desde 2008, é decorrência da hegemonia, nos últimos trinta anos, do neoliberalismo - uma ideologia de direita que desregulamentou os mercados financeiros.
Sabemos que a falta de regulamentação ( medidas de precaução) destes mercados não é causa única da situação que vivenciamos, mas foi das mais evidentes. Assim sendo, cabe aos estadistas impedir que banqueiros produzam novos sofrimentos, disciplinando tais mercados e tomando outras medidas que se encaminhem no mesmo sentido.
Uma outra causa da crise, bastante ponderável, é a ainda existente dominância do dólar como moeda que não mais se justifica. Depois da segunda guerra mundial, quando ela começou a se intensificar, o PNB americano era da ordem de 50% do PNB mundial, hoje é da ordem de 20%.
Os norte-americanos são, há significativo período de tempo, grandes consumidores que produzem menos do que consomem, situação está que se mantém através do endividamento. Isto não deve permanecer por tempo indefinido, mesmo com os privilégios da emissão de moeda obrigatoriamente aceita por todos. Fazem-se necessárias reformas que retirem do dólar tal primazia de forma a assegurar mais justiça nas transações financeiras internacionais.
Países como o Brasil, Argentina, Índia e outros já estão contornando alguns problemas cambiais causados pelo dólar, fazendo acordos bilaterais nos quais fica estabelecido o pagamento dos saldos em moedas nacionais.
O FMI, o Banco Mundial e outras entidades financeiras terão que ser reformadas dando mais espaço à atuação dos BRICs. Na prática, o G20 já está operando algumas das funções do FMI .
O mundo está diferente, a monopolaridade está em franco retrocesso, a multipolaridade já se estabeleceu e tem se fortificado apesar das forças retrógradas tentarem retroceder o processo. As nações já começam a não aceitar subordinações humilhantes.
É tempo de mudanças e novas regulamentações de mercado. Mesmo economistas conservadores já têm um consenso mínimo: Para evitar novas catástrofes, é preciso criar mecanismos que solucionem problemas isolados e sistêmicos, além de impedir que o stress se alastre pelas fronteiras nacionais.
Como se sabe, o neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deve ser entregue às leis de mercado, com menor intervenção estatal. Segundo seus defensores, a presença do Estado na economia inibe o setor privado e freia o desenvolvimento. Como consequência dessas idéias o Estado deve ser “mínimo”.
Entretanto, a corrente crise evidencia a fragilidade de tais idéias neoliberais. A tese do “Estado mínimo” está falida. Quem defende que o mercado tudo resolve está contra a corrente, é hostil à realidade. Revalidam-se as teses de Celso Furtado e outros economistas defensores de Estados com setores financeiros fortes e indutores permanentes de crescimento, desenvolvimento e estabilidade.
Governos que se deixaram dominar pelas idéias neoliberais, que renunciaram a ter empresas e bancos estatais poderosos, estão, agora, em maus lençóis. Não podem socorrer suas economias, nem induzi-las a terem menores diminuições de seus PNBs.
Um dos países que permitiu a destruição de suas empresas e bancos estatais, vendo agora sua economia ter desastrosa diminuição do PNB, com quase nada a ser feito no sentido de protegê-la é o México. Em sua economia não há nada de entidades semelhantes ao nosso BNDS, Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal.
O governo brasileiro presidido por Lula felizmente não deixou ser destruído seu setor bancário estatal, e, por isso, está podendo tomar medidas eficazes contra a crise e seus efeitos negativos. Assinale-se aqui que esta manutenção do setor bancário estatal exigiu coragem e valor. No governo anterior- o de FHC – haviam pressões terríveis no sentido da privatização escandalosa não só do setor bancário, mas também das outras empresas rentáveis estatais brasileiras.Uma boa documentação a respeito das nefastas privatizações empreendidas por FHC são os textos jornalísticos e livros de autoria do renomado jornalista Aloysio Biondi. Claro que as entidades finaceiras Estatais e a Petrobrás só escaparam das privatizações do Governo FHC porque tiveram ferrenhas defesas dos patriotas e nacionalistas que atuavam na política da época .
Embora a esquerda tenha, nas últimas décadas, tido seus méritos por ter defendido um papel ativo para o Estado na diminuição das desigualdades, é verdade que também cometeu inúmeros erros. Não resistiu o necessário á proposta de desregulamentação Neoliberal, nem constituiu uma alternativa econômica á teoria neoclássica. Keynes teve uma esquerda desenvolvimentista medíocre que pregava a irresponsabilidade fiscal, que muitos políticos sabem ser desastrosa.
Na década de 80, a esquerda rendeu-se de forma despudorada ao neoliberalismo. O acontecimento mais triste dessa rendição, sem dúvida, foi a virada para a direita ocorrida na França e empreendida por François Mitterrand.
Como os chineses nos ensinam, época de crise é também época de oportunidades.
Diante desta, temos a chance de resgatar muitas das virtudes dos pensamentos de esquerda, pondo-os em prática em benefício da população de nosso país. Entre eles está o de que os bancos estatais devem ser preponderantes, assegurando à economia mais equilíbrio e desempenho.
A manutenção do vigor do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do BNDS, são fatores que estão a beneficiar o nosso país.
Adam Smith- em seu livro A Riqueza das Nações- nos deixou uma lição que agora mais que nunca não pode ser esquecida: infeliz da nação que se deixa dominar pelos banqueiros privados.
Economista formado pela USP
É preciso que fique claro, evidente para todas as pessoas: A grande crise econômica, que vem se acentuando desde 2008, é decorrência da hegemonia, nos últimos trinta anos, do neoliberalismo - uma ideologia de direita que desregulamentou os mercados financeiros.
Sabemos que a falta de regulamentação ( medidas de precaução) destes mercados não é causa única da situação que vivenciamos, mas foi das mais evidentes. Assim sendo, cabe aos estadistas impedir que banqueiros produzam novos sofrimentos, disciplinando tais mercados e tomando outras medidas que se encaminhem no mesmo sentido.
Uma outra causa da crise, bastante ponderável, é a ainda existente dominância do dólar como moeda que não mais se justifica. Depois da segunda guerra mundial, quando ela começou a se intensificar, o PNB americano era da ordem de 50% do PNB mundial, hoje é da ordem de 20%.
Os norte-americanos são, há significativo período de tempo, grandes consumidores que produzem menos do que consomem, situação está que se mantém através do endividamento. Isto não deve permanecer por tempo indefinido, mesmo com os privilégios da emissão de moeda obrigatoriamente aceita por todos. Fazem-se necessárias reformas que retirem do dólar tal primazia de forma a assegurar mais justiça nas transações financeiras internacionais.
Países como o Brasil, Argentina, Índia e outros já estão contornando alguns problemas cambiais causados pelo dólar, fazendo acordos bilaterais nos quais fica estabelecido o pagamento dos saldos em moedas nacionais.
O FMI, o Banco Mundial e outras entidades financeiras terão que ser reformadas dando mais espaço à atuação dos BRICs. Na prática, o G20 já está operando algumas das funções do FMI .
O mundo está diferente, a monopolaridade está em franco retrocesso, a multipolaridade já se estabeleceu e tem se fortificado apesar das forças retrógradas tentarem retroceder o processo. As nações já começam a não aceitar subordinações humilhantes.
É tempo de mudanças e novas regulamentações de mercado. Mesmo economistas conservadores já têm um consenso mínimo: Para evitar novas catástrofes, é preciso criar mecanismos que solucionem problemas isolados e sistêmicos, além de impedir que o stress se alastre pelas fronteiras nacionais.
Como se sabe, o neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deve ser entregue às leis de mercado, com menor intervenção estatal. Segundo seus defensores, a presença do Estado na economia inibe o setor privado e freia o desenvolvimento. Como consequência dessas idéias o Estado deve ser “mínimo”.
Entretanto, a corrente crise evidencia a fragilidade de tais idéias neoliberais. A tese do “Estado mínimo” está falida. Quem defende que o mercado tudo resolve está contra a corrente, é hostil à realidade. Revalidam-se as teses de Celso Furtado e outros economistas defensores de Estados com setores financeiros fortes e indutores permanentes de crescimento, desenvolvimento e estabilidade.
Governos que se deixaram dominar pelas idéias neoliberais, que renunciaram a ter empresas e bancos estatais poderosos, estão, agora, em maus lençóis. Não podem socorrer suas economias, nem induzi-las a terem menores diminuições de seus PNBs.
Um dos países que permitiu a destruição de suas empresas e bancos estatais, vendo agora sua economia ter desastrosa diminuição do PNB, com quase nada a ser feito no sentido de protegê-la é o México. Em sua economia não há nada de entidades semelhantes ao nosso BNDS, Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal.
O governo brasileiro presidido por Lula felizmente não deixou ser destruído seu setor bancário estatal, e, por isso, está podendo tomar medidas eficazes contra a crise e seus efeitos negativos. Assinale-se aqui que esta manutenção do setor bancário estatal exigiu coragem e valor. No governo anterior- o de FHC – haviam pressões terríveis no sentido da privatização escandalosa não só do setor bancário, mas também das outras empresas rentáveis estatais brasileiras.Uma boa documentação a respeito das nefastas privatizações empreendidas por FHC são os textos jornalísticos e livros de autoria do renomado jornalista Aloysio Biondi. Claro que as entidades finaceiras Estatais e a Petrobrás só escaparam das privatizações do Governo FHC porque tiveram ferrenhas defesas dos patriotas e nacionalistas que atuavam na política da época .
Embora a esquerda tenha, nas últimas décadas, tido seus méritos por ter defendido um papel ativo para o Estado na diminuição das desigualdades, é verdade que também cometeu inúmeros erros. Não resistiu o necessário á proposta de desregulamentação Neoliberal, nem constituiu uma alternativa econômica á teoria neoclássica. Keynes teve uma esquerda desenvolvimentista medíocre que pregava a irresponsabilidade fiscal, que muitos políticos sabem ser desastrosa.
Na década de 80, a esquerda rendeu-se de forma despudorada ao neoliberalismo. O acontecimento mais triste dessa rendição, sem dúvida, foi a virada para a direita ocorrida na França e empreendida por François Mitterrand.
Como os chineses nos ensinam, época de crise é também época de oportunidades.
Diante desta, temos a chance de resgatar muitas das virtudes dos pensamentos de esquerda, pondo-os em prática em benefício da população de nosso país. Entre eles está o de que os bancos estatais devem ser preponderantes, assegurando à economia mais equilíbrio e desempenho.
A manutenção do vigor do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do BNDS, são fatores que estão a beneficiar o nosso país.
Adam Smith- em seu livro A Riqueza das Nações- nos deixou uma lição que agora mais que nunca não pode ser esquecida: infeliz da nação que se deixa dominar pelos banqueiros privados.
Economista formado pela USP
domingo, 14 de março de 2010
O FMI TENTA CONTINUAR O MESMO
Leon Bevilaqua
Nas décadas de 80 e 90 do século passado, o FMI – Fundo monetário internacional – revelou-se plenamente como instrumento de opressão das nações mais pobres, dependentes do capitalismo central. Mais que isso, foi um instrumento de imposição e ampliação do neoliberalismo, que na época era dominante e quase unanimidade.
Os representantes do FMI eram recebidos, nas capitais e cidades principais dos países pretendentes de empréstimos, como personalidades cujas biografias e entrevistas eram merecedoras de publicação nos principais jornais desses países. No Brasil, os jornais Folha de São Paulo e Estadão, além das principais revistas, desempenharam esse papel.
Banqueiros privados, em entrevistas à grande imprensa, diziam que era absurdo ainda existirem bancos estatais como o BNDES, Banco do Brasil e Caixa econômica federal. Arrogantemente, afirmavam que estas entidades deveriam ser imediatamente privatizadas. O senador direitista Roberto Campos, já falecido, por muitos chamado de Bob Fields, referia-se em seus discursos no senado e entrevistas na imprensa à Petrossauro, a Petrobrás – como uma empresa que deveria também ser privatizada o quanto antes, para o bem e maior eficiência da nação.
Existem países que embarcaram completamente nas barcas da privatização, hoje estando bastante lesados e arrependidos. O México é um deles, tendo amargurado em 2009 diminuição do PNB de 5,8% .Nestas décadas citadas, não só o México como o Brasil e a Argentina sofreram horrores. Felizmente o Brasil e países asiáticos não obedeceram tanto à corrente que se seguia. Souberam manter seus principais bancos e estatais. Hoje os bancos estatais e a Petrobrás estão evitando muitos sofrimentos ao nosso povo.
Nossa queda de PNB em 2009 foi de apenas 0,2%, o que indica estagnação, mas foi resultado razoável para a época adversa atravessada.
Lógico que alguns dos políticos desses tempos difíceis tiveram o grande mérito de, com sacrifícios difíceis de imaginar, impedir muitas das privatizações que o FMI e outras entidades queriam a todo custo nos impor. Mesmo assim, por ocasião do festival de privataria que assolou nosso país no fim da década de 90 e começo desse século, protagonizado por FHC e seu fiel escudeiro José Serra, foram a nós impostas privatizações inconstitucionais e absurdas. A mais importante delas, a mais escandalosa, foi a da Companhia Vale do Rio Doce.
Com a crise econômica internacional que eclodiu em 2008 e ressaltou os riscos de um projeto neoliberal duro e puro, tendo reiterado a necessidade de regulação dos mercados e atuação anticíclica por parte do Estado, era de se esperar menos imposições neoliberais do FMI aos estados necessitados de empréstimos; principalmente levando em conta que os brics – Brasil, Rússia, Índia e China- agora são credores daquela entidade.
Em março de 2010, o governo Turco rompeu negociações de dois anos com o FMI porque esta entidade, para conceder empréstimo inferior ao pretendido, exigiu privatização de parcela substancial dos bens públicos daquela nação. Esta pretensão causou temores não só na população turca, como em seus políticos. O primeiro ministro turco – Recep Tayyip Eslodegan não hesitou em desqualificar em público a entidade, o que causou mal estar. Já não existem países dependentes como antigamente! Já não são estendidos tapetes vermelhos para representantes do FMI, embora eles tentem ser os mesmos de antes. Não é à toa que o G 20 tende a absorver muitas das funções do FMI.
-Nota 1-
O FMI consumiu sua credibilidade junto aos países asiáticos em 1997, quando se aproveitou das dificuldades dos países da região que sofreram ataques especulativos para impor, de forma evidente, os interesses financeiros e econômico dos EUA e a ideologia neoliberal em voga. Com objetivo de não mais dependerem daquela entidade subordinada a Washington, os países da região passaram a acumular reservas de forma obssessiva. A França e a Alemanha falam em criar um fundo europeu e, os países asiáticos, cogitam situações semelhantes.
Nas décadas de 80 e 90 do século passado, o FMI – Fundo monetário internacional – revelou-se plenamente como instrumento de opressão das nações mais pobres, dependentes do capitalismo central. Mais que isso, foi um instrumento de imposição e ampliação do neoliberalismo, que na época era dominante e quase unanimidade.
Os representantes do FMI eram recebidos, nas capitais e cidades principais dos países pretendentes de empréstimos, como personalidades cujas biografias e entrevistas eram merecedoras de publicação nos principais jornais desses países. No Brasil, os jornais Folha de São Paulo e Estadão, além das principais revistas, desempenharam esse papel.
Banqueiros privados, em entrevistas à grande imprensa, diziam que era absurdo ainda existirem bancos estatais como o BNDES, Banco do Brasil e Caixa econômica federal. Arrogantemente, afirmavam que estas entidades deveriam ser imediatamente privatizadas. O senador direitista Roberto Campos, já falecido, por muitos chamado de Bob Fields, referia-se em seus discursos no senado e entrevistas na imprensa à Petrossauro, a Petrobrás – como uma empresa que deveria também ser privatizada o quanto antes, para o bem e maior eficiência da nação.
Existem países que embarcaram completamente nas barcas da privatização, hoje estando bastante lesados e arrependidos. O México é um deles, tendo amargurado em 2009 diminuição do PNB de 5,8% .Nestas décadas citadas, não só o México como o Brasil e a Argentina sofreram horrores. Felizmente o Brasil e países asiáticos não obedeceram tanto à corrente que se seguia. Souberam manter seus principais bancos e estatais. Hoje os bancos estatais e a Petrobrás estão evitando muitos sofrimentos ao nosso povo.
Nossa queda de PNB em 2009 foi de apenas 0,2%, o que indica estagnação, mas foi resultado razoável para a época adversa atravessada.
Lógico que alguns dos políticos desses tempos difíceis tiveram o grande mérito de, com sacrifícios difíceis de imaginar, impedir muitas das privatizações que o FMI e outras entidades queriam a todo custo nos impor. Mesmo assim, por ocasião do festival de privataria que assolou nosso país no fim da década de 90 e começo desse século, protagonizado por FHC e seu fiel escudeiro José Serra, foram a nós impostas privatizações inconstitucionais e absurdas. A mais importante delas, a mais escandalosa, foi a da Companhia Vale do Rio Doce.
Com a crise econômica internacional que eclodiu em 2008 e ressaltou os riscos de um projeto neoliberal duro e puro, tendo reiterado a necessidade de regulação dos mercados e atuação anticíclica por parte do Estado, era de se esperar menos imposições neoliberais do FMI aos estados necessitados de empréstimos; principalmente levando em conta que os brics – Brasil, Rússia, Índia e China- agora são credores daquela entidade.
Em março de 2010, o governo Turco rompeu negociações de dois anos com o FMI porque esta entidade, para conceder empréstimo inferior ao pretendido, exigiu privatização de parcela substancial dos bens públicos daquela nação. Esta pretensão causou temores não só na população turca, como em seus políticos. O primeiro ministro turco – Recep Tayyip Eslodegan não hesitou em desqualificar em público a entidade, o que causou mal estar. Já não existem países dependentes como antigamente! Já não são estendidos tapetes vermelhos para representantes do FMI, embora eles tentem ser os mesmos de antes. Não é à toa que o G 20 tende a absorver muitas das funções do FMI.
-Nota 1-
O FMI consumiu sua credibilidade junto aos países asiáticos em 1997, quando se aproveitou das dificuldades dos países da região que sofreram ataques especulativos para impor, de forma evidente, os interesses financeiros e econômico dos EUA e a ideologia neoliberal em voga. Com objetivo de não mais dependerem daquela entidade subordinada a Washington, os países da região passaram a acumular reservas de forma obssessiva. A França e a Alemanha falam em criar um fundo europeu e, os países asiáticos, cogitam situações semelhantes.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
ELEIÇÕES BRASILEIRAS DE 2010
Leon Bevilaqua
Estamos no fim de 2009 e o risco de moratória de Dubai- que foi socorrido financeiramente em dezembro, a situação financeira precária na Ucrânia, Romênia e países bálticos, indicam que a superação da crise econômica a nível mundial está, provavelmente, distante e difícil.
Apesar desse momento econômico internacional, o Brasil segue em águas relativamente tranqüilas devido a várias razões, dentre as quais a decidida atitude do governo federal que soube, até o momento, como manter consumo, emprego¹ e renda.
Quando a crise se manifestou claramente, em 2008, a lógica privativista fez com que o crédito bancário fosse drasticamente reduzido e o perigo do desemprego se alastrasse mundialmente.
Contudo, no Brasil, o Presidente da República incentivou o consumo. Ele apostou que a manutenção de um mercado ativo com bom nível de consumo, impediria que o país fosse fortemente atingido pela crise que afligiu o mundo². No entanto, o crescimento do PIB, em 2009, foi próximo de zero.
Dada a existência de um setor bancário estatal saudável, pode o presidente – utilizando renúncias fiscais (redução do IPI da linha branca, por exemplo)- dar crédito e sustentação ao consumo e emprego da população e das empresas. Como conseqüência, houve aumento do endividamento público.
Além disso, há outras condicionantes determinando a favorável situação. Entre essas condicionantes está a determinação brasileira de diversificação das exportações, a qual diminuiu a dependência do mercado norte-americano e transformou a China em nosso principal comprador. A política de distribuição de renda encontra-se entre as principais medidas que estão nos encaminhando rumo à universalização de uma renda monetária básica.
A própria crise e seu desenrolar estão a evidenciar certos fatos. A necessidade de estados nacionais suficientemente fortes para apoiar as atividades econômicas nos momentos adversos, mostra a falência da tese neoliberal do estado mínimo. Assim sendo, com o objetivo de fortalecer o nosso estado nacional e evitar futuros gargalos na produção, no desenvolvimento e segurança nacionais, é preciso que cheguemos a ter um governo federal com coragem e força para anular as privatizações sustentadas por ações espúrias, constituindo atos jurídicos imperfeitos.
A privatização da Vale do Rio Doce, empreendida pela dupla Fernando Henrique Cardoso e José Serra, é certamente uma das indevidas privatizações que debilitaram o país.
O bom ou mau destino da nação será decidido nas eleições de 2010. Se o setor político nacionalista e desenvolvimentista – que respeita o povo- for escolhido, elegendo nosso presidente, a nação chegará mais rápido ao decente futuro que é esperado. Caso contrário, com a vitória daqueles que não respeitam e nem acreditam no potencial do nosso povo, amargos serão os anos dos brasileiros que encontrar-se-ão nas mãos de políticos elitistas³ incapazes de manter a posse de nossas grandes e rentáveis empresas estatais e a margem de soberania nacional. Torçamos para que o bom senso e o equilíbrio predominem.
¹ Terminamos o ano de 2009 com um saldo de 995.110 empregos criados, segundo o Ministério do Trabalho. Foram 415.192 a menos que em 2008.
² No restante do mundo e em nosso país, questões fundamentais de inclusão social e sustentabilidade ambiental, não estão sendo devidamente enfrentadas. O ano de 2009 terminará com uma produção mundial em torno de 52 milhões de veículos, sendo 25% deles produzidos pela China. Basta esse dado para que se tenha um seguro indicador de que se deve buscar
novos paradigmas de produção e consumo. A continuidade dessa situação acarretará a ocorrência de novas crises, dada a insustentabilidade ambiental deste padrão de produção e consumo que tenta perpetuar o american way of life, ou seja, o consumo exacerbado. Sabe-se que níveis de crescimento econômico continuados, direcionados a satisfazer demandas por bens de consumo não essenciais, são incompatíveis com um processo de desenvolvimento sustentável, o que evidencia a carência de mudanças nos padrões de consumo materiais atuais.
³ A proposta do atual governo federal de institucionalização dos mais recentes êxitos das políticas sociais - (uma consolidação das leis sociais- CLS) tem por objetivo evitar que governos não ligados aos interesses do povo, quando eleitos, tragam o constrangimento da descontinuidade temporal das política públicas voltadas para as necessidades da população. Esta preocupação tem pertinência. É preciso levar em consideração que nada garante que uma lei continue a vigorar. No fundo, as leis são sempre fruto das relações de poder do momento em que são elaboradas. Se as relações mudarem, há a possibilidade de revogação dessas leis. Ressalte-se os estragos que mal intencionados e outros fizeram na CLT, tão bem elaborada. Acrescente-se que fazer uma CLS decente é uma tarefa que exige tempo e este será curto até o próximo mandato presidencial. Assinale-se, ainda, que a CLT é instrumental do direito privado e a CLS, que se deseja implementar será instrumental de direito público.
Estamos no fim de 2009 e o risco de moratória de Dubai- que foi socorrido financeiramente em dezembro, a situação financeira precária na Ucrânia, Romênia e países bálticos, indicam que a superação da crise econômica a nível mundial está, provavelmente, distante e difícil.
Apesar desse momento econômico internacional, o Brasil segue em águas relativamente tranqüilas devido a várias razões, dentre as quais a decidida atitude do governo federal que soube, até o momento, como manter consumo, emprego¹ e renda.
Quando a crise se manifestou claramente, em 2008, a lógica privativista fez com que o crédito bancário fosse drasticamente reduzido e o perigo do desemprego se alastrasse mundialmente.
Contudo, no Brasil, o Presidente da República incentivou o consumo. Ele apostou que a manutenção de um mercado ativo com bom nível de consumo, impediria que o país fosse fortemente atingido pela crise que afligiu o mundo². No entanto, o crescimento do PIB, em 2009, foi próximo de zero.
Dada a existência de um setor bancário estatal saudável, pode o presidente – utilizando renúncias fiscais (redução do IPI da linha branca, por exemplo)- dar crédito e sustentação ao consumo e emprego da população e das empresas. Como conseqüência, houve aumento do endividamento público.
Além disso, há outras condicionantes determinando a favorável situação. Entre essas condicionantes está a determinação brasileira de diversificação das exportações, a qual diminuiu a dependência do mercado norte-americano e transformou a China em nosso principal comprador. A política de distribuição de renda encontra-se entre as principais medidas que estão nos encaminhando rumo à universalização de uma renda monetária básica.
A própria crise e seu desenrolar estão a evidenciar certos fatos. A necessidade de estados nacionais suficientemente fortes para apoiar as atividades econômicas nos momentos adversos, mostra a falência da tese neoliberal do estado mínimo. Assim sendo, com o objetivo de fortalecer o nosso estado nacional e evitar futuros gargalos na produção, no desenvolvimento e segurança nacionais, é preciso que cheguemos a ter um governo federal com coragem e força para anular as privatizações sustentadas por ações espúrias, constituindo atos jurídicos imperfeitos.
A privatização da Vale do Rio Doce, empreendida pela dupla Fernando Henrique Cardoso e José Serra, é certamente uma das indevidas privatizações que debilitaram o país.
O bom ou mau destino da nação será decidido nas eleições de 2010. Se o setor político nacionalista e desenvolvimentista – que respeita o povo- for escolhido, elegendo nosso presidente, a nação chegará mais rápido ao decente futuro que é esperado. Caso contrário, com a vitória daqueles que não respeitam e nem acreditam no potencial do nosso povo, amargos serão os anos dos brasileiros que encontrar-se-ão nas mãos de políticos elitistas³ incapazes de manter a posse de nossas grandes e rentáveis empresas estatais e a margem de soberania nacional. Torçamos para que o bom senso e o equilíbrio predominem.
¹ Terminamos o ano de 2009 com um saldo de 995.110 empregos criados, segundo o Ministério do Trabalho. Foram 415.192 a menos que em 2008.
² No restante do mundo e em nosso país, questões fundamentais de inclusão social e sustentabilidade ambiental, não estão sendo devidamente enfrentadas. O ano de 2009 terminará com uma produção mundial em torno de 52 milhões de veículos, sendo 25% deles produzidos pela China. Basta esse dado para que se tenha um seguro indicador de que se deve buscar
novos paradigmas de produção e consumo. A continuidade dessa situação acarretará a ocorrência de novas crises, dada a insustentabilidade ambiental deste padrão de produção e consumo que tenta perpetuar o american way of life, ou seja, o consumo exacerbado. Sabe-se que níveis de crescimento econômico continuados, direcionados a satisfazer demandas por bens de consumo não essenciais, são incompatíveis com um processo de desenvolvimento sustentável, o que evidencia a carência de mudanças nos padrões de consumo materiais atuais.
³ A proposta do atual governo federal de institucionalização dos mais recentes êxitos das políticas sociais - (uma consolidação das leis sociais- CLS) tem por objetivo evitar que governos não ligados aos interesses do povo, quando eleitos, tragam o constrangimento da descontinuidade temporal das política públicas voltadas para as necessidades da população. Esta preocupação tem pertinência. É preciso levar em consideração que nada garante que uma lei continue a vigorar. No fundo, as leis são sempre fruto das relações de poder do momento em que são elaboradas. Se as relações mudarem, há a possibilidade de revogação dessas leis. Ressalte-se os estragos que mal intencionados e outros fizeram na CLT, tão bem elaborada. Acrescente-se que fazer uma CLS decente é uma tarefa que exige tempo e este será curto até o próximo mandato presidencial. Assinale-se, ainda, que a CLT é instrumental do direito privado e a CLS, que se deseja implementar será instrumental de direito público.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Aloysio Biondi, um jornalista sacerdote
*Leon Bevilaqua
Muita gente já passou a celebrar a vida e a obra do jornalista econômico Aloysio Biondi, um paulista patriota que teve atuação marcante na segunda metade do século passado.
Ele nasceu em Caconde, pequena cidade de São Paulo, no ano de 1936, tendo morrido no ano de 2000, na cidade de São Paulo, aos 64 anos. Destacou-se pelo seu trabalho na imprensa alternativa, com a qual colaborou durante toda a vida, principalmente no período em que foi colaborador do jornal Opinião- na década de 70.
Foi autor do livro reportagem O Brasil Privatizado- um balanço do desmonte do Estado, que já vendeu mais de 125 mil exemplares e se tornou fundamental para se compreender o governo de Fernando Henrique e o empobrecimento da nação por ele provocado.
Trabalhou em diversas publicações da grande imprensa brasileira, entre elas as revistas Veja e Visão, os jornais Gazeta Mercantil, jornal do Comércio, Folha de São Paulo e outros.
Segundo Jânio de Freitas, como características de sua trajetória de vida, foi independente, patriota combativo, ético e capaz nas análises econômicas por ele efetuadas. Considerado por muitos um sacerdote do jornalismo, ninguém soube como ele o sentido real, os pormenores e as conseqüências das decisões econômicas e monetárias.
Por ocasião da nefasta privatização empreendida por Fernando Henrique Cardoso, que se notabilizou pela submissão do governo brasileiro aos interesses de outros países, foi, como Celso Furtado, voz da reserva moral e intelectual da nação que se colocou contra aquela decisão de governo.
Como tópicos importantes do seu livro O Brasil privatizado, transcrevemos os seguintes textos:
1- “ A febre da privatização e o impulso ao chamado neoliberalismo teve seu ponto de partida na Inglaterra, com a primeira ministra Margaret Thatcher. Mas mesmo a ‘dama de ferro’ fez tudo diferente do governo Fernando Henrique Cardoso: a privatização inglesa não representou a doação de empresas estatais, a preços baixos, a poucos grupos empresariais. Ao contrário: seu objetivo foi exatamente a ‘pulverização’ das ações, isto é, transformar o maior número possível de cidadãos ingleses em ‘donos’ de ações, acionistas das empresas privatizadas. Não foi só blábláblá, não. O governo inglês criou ‘prêmios’, incentivos para qualquer cidadão comprar ações: quem não as revendesse antes de certo prazo tinha o direito de ‘ ganhar’ determinadas quantias, em datas já marcadas no momento da compra (o sistema se baseava na distribuição de custumer vouchers, espécie de cupons que eram trocados por dinheiro nos prazos previstos). Ou ainda: após três anos, os acionistas que tivessem guardado as ações podiam ganhar também ‘lotes extras’ dos títulos, geralmente na proporção de 10% sobre o número de ações compradas. Isto na Inglaterra de Thatcher, nos anos 80. Na França, a mesma coisa. Na privatização parcial das empresas de telecomunicações, em 1998, nada menos de 4 milhões de franceses compraram ações, graças aos atrativos oferecidos pelo governo.”
2- “ Numa sexta-feira, cinco dias antes do leilão de ‘privatização’ da Cemig, empresa de energia de Minas Gerais, o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou um decreto revolucionário. Por ele, o BNDES ficou ‘autorizado’ a –leia-se ‘recebeu ordens para’- conceder empréstimos também a grupos estrangeiros. Reviravolta histórica- e inconcebível. Criado para dar apoio ao desenvolvimento nacional, o banco estatal se concentrou inicialmente no financiamento a projetos de infra-estrutura e, posteriormente, como instrumento de política industrial, recebeu a incumbência de criar condições de competição para grupos nacionais. Para cumprir esse papel, o BNDES estava proibido por lei de financiar empresas estrangeiras. O decreto presidencial de 24 de maio de 1997 escancarou os cofres do BNDES às multinacionais, para que comprassem estatais. Isto ao mesmo tempo que o banco continuava proibido de conceder empréstimos exatamente às estatais brasileiras, incumbidas dos setores de infra-estrutura e básicos. Na quarta-feira seguinte, um grupo norte-americano comprou um bloco de um terço das ações da Cemig por 2 bilhões de reais, com metade deste valor financiado pelo BNDES.
3- “ Proibir um banco estatal de financiar empresas estatais, de setores vitais para o país, é uma decisão esdrúxula. Mas, no caso do BNDES, chega à beira da insanidade, porque esse banco, como o próprio nome-Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (e Social)-diz, foi criado no governo Juscelino Kubitschek exatamente com o objetivo de fornecer recursos para a execução de projetos de infra-estrutura, que exigem desembolso de bilhões e bilhões- e precisam de alguns anos para a sua execução. Mais especificamente, dentro da filosofia desenvolvimentista do governo de JK, o BNDES disporia de recursos retirados do Imposto de Renda ( e outras fontes de ‘impostos’, como o PIS-Pasep), para permitir a construção de Usinas hidroelétricas, ferrovias, rodovias, portos, sistemas de telecomunicações, enfim, toda a infra-estrutura que o processo de industrialização exigia. Um instrumento estratégico, em resumo, capaz de viabilizar a política de desenvolvimento de longo prazo, incumbido de dar apoio ás áreas escolhidas como prioritárias.
É, portanto, incrível que, de uma penada, o governo tenha cancelado o próprio motivo de criação do banco, ao proibir que ele financiasse as estatais, que passaram então a depender de seus próprios lucros- ou de empréstimos internacionais-para a execução de seus projetos.”
Para nós, restam dúvidas, entre elas:
-Como classificar o governo FHC?
-Como ficará o governo FHC situado na história da nação brasileira?
Nota ¹ - Leituras recomendadas:
a) Para quem se interessa pela questão tributária no governo FHC, o artigo injustiça tributária. Este texto foi publicado no número 150 da revista Caros Amigos, de setembro de 2009 e na versão on line da mesma revista.
b) Sobre a atuação de Fernando Henrique Cardoso, como ministro da fazenda, a entrevista do delegado da polícia federal Protógenes Queiróz, nas versões impressa e on line.
c) A famosa entrevista concedida por Aloysio Biondi à mesma revista no ano de 1998 nas versões impressa e on line. O acervo deixado pelo jornalista encontra-se em poder da UNICAMP.
d) Aloysio Biondi- resistência, ética e grandeza no jornalismo, trabalho de conclusão de curso em jornalismo de Thais Sawaya Pereira na faculdade de jornalismo Casper Líbero.
PS -(21.12.2011)-
Há uma clara vinculação entre a obra de Aloysio Biondi em seu livro O Brasil privatizado e a de Amaury Ribeiro Junior, em seu livro A privataria tucana. Ambos são retratos complementares dos oito anos do governo FHC e seu neoliberalismo. Mais ainda, a obra de Amauri Junior, lançada ao público em dezembro de 2011, é uma continuidade e ampliação do trabalho pioneiro de Biondi. Amaury foi aos porões do governo FHC, quando o patrimônio do povo brasileiro migrou para as mãos privadas. Ele é um competente jornalista brasileiro, ganhador mais de uma vez do prêmio Esso de jornalismo, tendo vivido mais de dez anos de sua vida dedicados à pesquisa dos oito anos do governo de FHC e Serra. Em seu livro, só de documentos, são mais de cem páginas, que mostram claramente o que aconteceu no processo de privatização comandado pela dupla Serra e FHC.
*Economista formado pela USP
Muita gente já passou a celebrar a vida e a obra do jornalista econômico Aloysio Biondi, um paulista patriota que teve atuação marcante na segunda metade do século passado.
Ele nasceu em Caconde, pequena cidade de São Paulo, no ano de 1936, tendo morrido no ano de 2000, na cidade de São Paulo, aos 64 anos. Destacou-se pelo seu trabalho na imprensa alternativa, com a qual colaborou durante toda a vida, principalmente no período em que foi colaborador do jornal Opinião- na década de 70.
Foi autor do livro reportagem O Brasil Privatizado- um balanço do desmonte do Estado, que já vendeu mais de 125 mil exemplares e se tornou fundamental para se compreender o governo de Fernando Henrique e o empobrecimento da nação por ele provocado.
Trabalhou em diversas publicações da grande imprensa brasileira, entre elas as revistas Veja e Visão, os jornais Gazeta Mercantil, jornal do Comércio, Folha de São Paulo e outros.
Segundo Jânio de Freitas, como características de sua trajetória de vida, foi independente, patriota combativo, ético e capaz nas análises econômicas por ele efetuadas. Considerado por muitos um sacerdote do jornalismo, ninguém soube como ele o sentido real, os pormenores e as conseqüências das decisões econômicas e monetárias.
Por ocasião da nefasta privatização empreendida por Fernando Henrique Cardoso, que se notabilizou pela submissão do governo brasileiro aos interesses de outros países, foi, como Celso Furtado, voz da reserva moral e intelectual da nação que se colocou contra aquela decisão de governo.
Como tópicos importantes do seu livro O Brasil privatizado, transcrevemos os seguintes textos:
1- “ A febre da privatização e o impulso ao chamado neoliberalismo teve seu ponto de partida na Inglaterra, com a primeira ministra Margaret Thatcher. Mas mesmo a ‘dama de ferro’ fez tudo diferente do governo Fernando Henrique Cardoso: a privatização inglesa não representou a doação de empresas estatais, a preços baixos, a poucos grupos empresariais. Ao contrário: seu objetivo foi exatamente a ‘pulverização’ das ações, isto é, transformar o maior número possível de cidadãos ingleses em ‘donos’ de ações, acionistas das empresas privatizadas. Não foi só blábláblá, não. O governo inglês criou ‘prêmios’, incentivos para qualquer cidadão comprar ações: quem não as revendesse antes de certo prazo tinha o direito de ‘ ganhar’ determinadas quantias, em datas já marcadas no momento da compra (o sistema se baseava na distribuição de custumer vouchers, espécie de cupons que eram trocados por dinheiro nos prazos previstos). Ou ainda: após três anos, os acionistas que tivessem guardado as ações podiam ganhar também ‘lotes extras’ dos títulos, geralmente na proporção de 10% sobre o número de ações compradas. Isto na Inglaterra de Thatcher, nos anos 80. Na França, a mesma coisa. Na privatização parcial das empresas de telecomunicações, em 1998, nada menos de 4 milhões de franceses compraram ações, graças aos atrativos oferecidos pelo governo.”
2- “ Numa sexta-feira, cinco dias antes do leilão de ‘privatização’ da Cemig, empresa de energia de Minas Gerais, o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou um decreto revolucionário. Por ele, o BNDES ficou ‘autorizado’ a –leia-se ‘recebeu ordens para’- conceder empréstimos também a grupos estrangeiros. Reviravolta histórica- e inconcebível. Criado para dar apoio ao desenvolvimento nacional, o banco estatal se concentrou inicialmente no financiamento a projetos de infra-estrutura e, posteriormente, como instrumento de política industrial, recebeu a incumbência de criar condições de competição para grupos nacionais. Para cumprir esse papel, o BNDES estava proibido por lei de financiar empresas estrangeiras. O decreto presidencial de 24 de maio de 1997 escancarou os cofres do BNDES às multinacionais, para que comprassem estatais. Isto ao mesmo tempo que o banco continuava proibido de conceder empréstimos exatamente às estatais brasileiras, incumbidas dos setores de infra-estrutura e básicos. Na quarta-feira seguinte, um grupo norte-americano comprou um bloco de um terço das ações da Cemig por 2 bilhões de reais, com metade deste valor financiado pelo BNDES.
3- “ Proibir um banco estatal de financiar empresas estatais, de setores vitais para o país, é uma decisão esdrúxula. Mas, no caso do BNDES, chega à beira da insanidade, porque esse banco, como o próprio nome-Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (e Social)-diz, foi criado no governo Juscelino Kubitschek exatamente com o objetivo de fornecer recursos para a execução de projetos de infra-estrutura, que exigem desembolso de bilhões e bilhões- e precisam de alguns anos para a sua execução. Mais especificamente, dentro da filosofia desenvolvimentista do governo de JK, o BNDES disporia de recursos retirados do Imposto de Renda ( e outras fontes de ‘impostos’, como o PIS-Pasep), para permitir a construção de Usinas hidroelétricas, ferrovias, rodovias, portos, sistemas de telecomunicações, enfim, toda a infra-estrutura que o processo de industrialização exigia. Um instrumento estratégico, em resumo, capaz de viabilizar a política de desenvolvimento de longo prazo, incumbido de dar apoio ás áreas escolhidas como prioritárias.
É, portanto, incrível que, de uma penada, o governo tenha cancelado o próprio motivo de criação do banco, ao proibir que ele financiasse as estatais, que passaram então a depender de seus próprios lucros- ou de empréstimos internacionais-para a execução de seus projetos.”
Para nós, restam dúvidas, entre elas:
-Como classificar o governo FHC?
-Como ficará o governo FHC situado na história da nação brasileira?
Nota ¹ - Leituras recomendadas:
a) Para quem se interessa pela questão tributária no governo FHC, o artigo injustiça tributária. Este texto foi publicado no número 150 da revista Caros Amigos, de setembro de 2009 e na versão on line da mesma revista.
b) Sobre a atuação de Fernando Henrique Cardoso, como ministro da fazenda, a entrevista do delegado da polícia federal Protógenes Queiróz, nas versões impressa e on line.
c) A famosa entrevista concedida por Aloysio Biondi à mesma revista no ano de 1998 nas versões impressa e on line. O acervo deixado pelo jornalista encontra-se em poder da UNICAMP.
d) Aloysio Biondi- resistência, ética e grandeza no jornalismo, trabalho de conclusão de curso em jornalismo de Thais Sawaya Pereira na faculdade de jornalismo Casper Líbero.
PS -(21.12.2011)-
Há uma clara vinculação entre a obra de Aloysio Biondi em seu livro O Brasil privatizado e a de Amaury Ribeiro Junior, em seu livro A privataria tucana. Ambos são retratos complementares dos oito anos do governo FHC e seu neoliberalismo. Mais ainda, a obra de Amauri Junior, lançada ao público em dezembro de 2011, é uma continuidade e ampliação do trabalho pioneiro de Biondi. Amaury foi aos porões do governo FHC, quando o patrimônio do povo brasileiro migrou para as mãos privadas. Ele é um competente jornalista brasileiro, ganhador mais de uma vez do prêmio Esso de jornalismo, tendo vivido mais de dez anos de sua vida dedicados à pesquisa dos oito anos do governo de FHC e Serra. Em seu livro, só de documentos, são mais de cem páginas, que mostram claramente o que aconteceu no processo de privatização comandado pela dupla Serra e FHC.
*Economista formado pela USP
Quem é quem?
*Leon Bevilaqua
Fernando Báez é intelectual latino- americano da atualidade, viajante e pesquisador erudito e minucioso das terras do Iraque, conhecido e reverenciado internacionalmente à direita e à esquerda do espectro ideológico. Isto, não só pela inegável competência, mas também pela sua integridade.
Como resultado de um estudo de doze anos, apresentou-nos a obra História universal da destruição dos livros, publicada no Brasil pela Ediouro. Nela, nos deparamos com uma visão assustadora da devastação sistemática da cultura e dos livros, que se iniciou no mundo antigo, até a catástrofe mais recente: a destruição de um milhão de livros no Iraque como conseqüência de uma guerra absurda.
É de consenso, entre os mais realistas, que os Estados Unidos atacaram o Iraque não só para assegurarem seu suprimento de petróleo, como também seus privilégios monetários e cambiais naquela nação. Após a ocupação, estabeleceram que aquele país deveria ter como reserva cambial, principalmente, o dólar e não o euro e outras moedas, como pretendia e começou a fazer o governo anterior.
Estudiosos afirmam que a destruição dos bens culturais e da cultura no Iraque decorrem da necessidade inexorável do dominador impor sua cultura sobre a do dominado.
De forma irrepreensível, o autor apresenta uma lista de prejuízos culturais causados por fogo criminoso ao longo do tempo, ficando evidenciado que a maior vítima de tantos crimes é a própria humanidade, pois “onde queimam livros, acabam queimando homens”, como disse o poeta alemão Heinrich Heine.
Abaixo, por serem elucidativos do assunto abordado, finalizamos transcrevendo os três tópicos seguintes do livro:
-1-
“ Declaração de um jovem da Universidade de Bagdá: ‘Algum dia alguém queimará a biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, e não haverá tanta perda como a que houve aqui.’ Ao se considerar a importância cultural do Iraque se deve recordar que o país contém centenas de lugares declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Nessas terras Nínive, onde Assurbanipal governou; Uruk, onde foram encontradas as primeiras amostras de escrita; Assur, capital do império assírio; Hatra e Babilônia.”
-2-
“ Quem são os responsáveis pela destruição cultural do Iraque?
Atribuo a maior parte da culpa à atual administração dos Estados Unidos, que ignorou todas as advertências e violou a Convenção de Haia de 1954 ao não proteger os centros culturais e estimular, por meio de uma propaganda de ódio, os saques. Também incorreu em delito de crimes contra o patrimônio cultural, expostos no Protocolo de 1999. Talvez seja também por isso que o governo Bush tenha pedido imunidade para oficiais e soldados ante possíveis processos nos tribunais penais internacionais. Talvez também por isso decidiu retornar à Unesco, e enviou sua mulher para negociar cargos executivos dentro da organização, despedir os assessores mais incômodos e silenciar qualquer crítica.”
-3-
“ O Iraque, pelo que descrevi e por tudo, é agora uma nação árabe ocupada pela força estrangeira mais repudiada no oriente médio, uma nação empobrecida por décadas de guerra, assolada por conflitos religiosos e atentados terroristas, em crise econômica, que sofre racionamento de alimentos, sem remédios nos hospitais, e , como se não bastasse, sua memória foi apagada, espoliada e subjugada. No Iraque se cometeu o primeiro memoricídio do século XXI.
Pode-se imaginar um destino pior para a região onde começou a nossa civilização?”
*Economista formado pela USP
Fernando Báez é intelectual latino- americano da atualidade, viajante e pesquisador erudito e minucioso das terras do Iraque, conhecido e reverenciado internacionalmente à direita e à esquerda do espectro ideológico. Isto, não só pela inegável competência, mas também pela sua integridade.
Como resultado de um estudo de doze anos, apresentou-nos a obra História universal da destruição dos livros, publicada no Brasil pela Ediouro. Nela, nos deparamos com uma visão assustadora da devastação sistemática da cultura e dos livros, que se iniciou no mundo antigo, até a catástrofe mais recente: a destruição de um milhão de livros no Iraque como conseqüência de uma guerra absurda.
É de consenso, entre os mais realistas, que os Estados Unidos atacaram o Iraque não só para assegurarem seu suprimento de petróleo, como também seus privilégios monetários e cambiais naquela nação. Após a ocupação, estabeleceram que aquele país deveria ter como reserva cambial, principalmente, o dólar e não o euro e outras moedas, como pretendia e começou a fazer o governo anterior.
Estudiosos afirmam que a destruição dos bens culturais e da cultura no Iraque decorrem da necessidade inexorável do dominador impor sua cultura sobre a do dominado.
De forma irrepreensível, o autor apresenta uma lista de prejuízos culturais causados por fogo criminoso ao longo do tempo, ficando evidenciado que a maior vítima de tantos crimes é a própria humanidade, pois “onde queimam livros, acabam queimando homens”, como disse o poeta alemão Heinrich Heine.
Abaixo, por serem elucidativos do assunto abordado, finalizamos transcrevendo os três tópicos seguintes do livro:
-1-
“ Declaração de um jovem da Universidade de Bagdá: ‘Algum dia alguém queimará a biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, e não haverá tanta perda como a que houve aqui.’ Ao se considerar a importância cultural do Iraque se deve recordar que o país contém centenas de lugares declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Nessas terras Nínive, onde Assurbanipal governou; Uruk, onde foram encontradas as primeiras amostras de escrita; Assur, capital do império assírio; Hatra e Babilônia.”
-2-
“ Quem são os responsáveis pela destruição cultural do Iraque?
Atribuo a maior parte da culpa à atual administração dos Estados Unidos, que ignorou todas as advertências e violou a Convenção de Haia de 1954 ao não proteger os centros culturais e estimular, por meio de uma propaganda de ódio, os saques. Também incorreu em delito de crimes contra o patrimônio cultural, expostos no Protocolo de 1999. Talvez seja também por isso que o governo Bush tenha pedido imunidade para oficiais e soldados ante possíveis processos nos tribunais penais internacionais. Talvez também por isso decidiu retornar à Unesco, e enviou sua mulher para negociar cargos executivos dentro da organização, despedir os assessores mais incômodos e silenciar qualquer crítica.”
-3-
“ O Iraque, pelo que descrevi e por tudo, é agora uma nação árabe ocupada pela força estrangeira mais repudiada no oriente médio, uma nação empobrecida por décadas de guerra, assolada por conflitos religiosos e atentados terroristas, em crise econômica, que sofre racionamento de alimentos, sem remédios nos hospitais, e , como se não bastasse, sua memória foi apagada, espoliada e subjugada. No Iraque se cometeu o primeiro memoricídio do século XXI.
Pode-se imaginar um destino pior para a região onde começou a nossa civilização?”
*Economista formado pela USP
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